Um ano longe de casa e a primeira coisa que me chamou a atenção na cidade foram, adivinhem, as novas farmácias. O leitor vai dizer: nenhuma novidade. E eu sou obrigada a concordar. Há tempos moro no bairro com mais farmácias por metro quadrado de Porto Alegre – a capital com mais farmácias por metro quadrado do Brasil (segundo dados extraídos do instituto de pesquisas O Palpite é Livre). Mas, aparentemente, sempre cabe mais uma botica onde antes morava alguém ou se vendia qualquer outro tipo de produto. Por motivos óbvios, a crise que abateu restaurantes e bares tradicionais da cidade não afetou a saúde do comércio de remédios e perfumaria. Pelo contrário. O que já era abundante, abundou ainda mais nesses meses em que estive fora.
Se esse tipo de negócio continua prosperando mesmo onde o mercado parece saturado (são várias as ruas perto da minha casa onde é possível fazer pesquisa de preços sem precisar andar 10 passos até a concorrência), concluo que os lucros vão bem e não faltam clientes. Ótima notícia para quem vende e para quem compra. Meu problema não é com o excesso de mais-do-mesmo na vizinhança (embora eu adorasse que o bairro tivesse mais padarias e fruteiras e pelo menos uma livraria), mas com a falta de personalidade das instalações.
Em muitos casos, a nova loja ocupa um prédio com marcas do tempo, alguma originalidade ou mesmo uma árvore bonita na calçada. Por algum motivo, tudo isso é concretado e substituído por uma fachada “funcional” quando chegam as farmácias. Em Porto Alegre, “funcional”, na maioria das vezes, quer dizer feio, sem graça, previsível, repetitivo. E quando várias fachadas “funcionais” tomam conta de um bairro, o resultado é uma vizinhança onde tudo “funciona” – menos o prazer de caminhar em uma área com personalidade e características próprias.
Tem que ser assim? Não tem. Muitos prédios bonitos de Porto Alegre poderiam vender aspirina e pasta de dente sem precisar passar por uma máquina de moer beleza. Se a nossa vocação é crescer farmácias, que pelo menos elas sejam bonitas.