Cruzar por acaso com uma pessoa querida que fazia anos você não via. Entregar-se a um abraço apertado, afetuoso, sublinhando a satisfação do reencontro com uma suave oscilação dos corpos de um lado para o outro. Em Porto Alegre, esse carinho coreografado tem nome: “Abraço de brique”. O brique, claro, é o da Redenção, local onde porto-alegrenses caminham, tomam mate e, em condições ideais de temperatura e epidemiologia, abraçam e são abraçados. Muitas vezes com aquele balancinho entusiasmado no final.
Neste momento, o retorno triunfal do abraço de brique, sem hesitações ou protocolos, é o desejo de 100% dos porto-alegrenses – inclusive daqueles que não são muito chegados a demonstrações públicas (e expansivas) de afeto. Abraçar sem medo de contágio, sem carteirinha de vacinação, sem perguntar quem o amigo andou abraçando nos últimos 14 dias.
Mas, mesmo quando a vacina estiver disponível para todos e os índices de ocupação das UTIs tiverem retornado a números aceitáveis, é possível que o abraço de brique continue confinado à esfera doméstica por algum tempo antes de voltar à praça pública ou ao calçadão da José Bonifácio. A primavera do abraço depende da recuperação da confiança em larga escala – e confiança não se recupera assim, de um dia para o outro. Ou por decreto.
Aqui em Nova York, mais de 50% dos adultos receberam pelo menos a primeira dose da vacina. Na semana passada, foram liberados os passeios e exercícios ao ar livre sem máscaras, e o prefeito Bill de Blasio anunciou que 100% das atividades interrompidas pela pandemia devem ser retomadas em 1º de julho. Em setembro, se tudo der certo, voltam os musicais da Broadway. Nas ruas, porém, ainda reina a cautela. A maioria das pessoas continua usando máscaras e mesmo entre conhecidos já vacinados as saudações se mantêm protocolarmente distanciadas.
No mesmo dia em que se tornou oficialmente OK dispensar as máscaras em ambientes abertos, levei meu nariz e meu queixo, despidos, para passear. Pode ser que o alívio seja provisório e que as máscaras passem a fazer parte das nossas vidas, de um jeito ou de outro, para sempre. Mas, por enquanto, qualquer sinal de otimismo é suficiente para transformar uma simples caminhada em uma grande marcha pela esperança.