Amar viagens e odiar aeroportos, eis o paradoxo que me aflige.
Uma viagem, qualquer viagem, acorda humanidades entorpecidas pela incansável máquina de moer dias: a vida.
A areia mais fina, ou mais grossa, do que aquela da praia a que você está acostumado. O sol que queima mais cedo, a neve que parece muito menos idílica quando apanha você distraído e com os sapatos errados. Os sotaques ondulantes, as roupas que mais parecem figurinos, o jeito como os rapazes abordam as moças nas ruas – sorridentes e gentis ou agressivos e ameaçadores. Sim, isso tudo, e mais as catedrais, os museus, os parques e tudo aquilo que nos lembra até onde podem ir a inteligência e a criatividade humanas. Detalhes que às vezes a gente esquece quando o que há de belo na nossa própria cidade torna-se invisível pelo hábito ou pela corriqueira preguiça de olhar para o lado com a devida atenção.
Aeroportos, pra mim, são o exato oposto dessa celebração da diversidade de pessoas e paisagens que as viagens proporcionam. Podem ser muito bem iluminados, escovados, ladrilhados e repletos da impressionante tecnologia capaz de fazer pessoas se deslocarem de um canto a outro do mundo em um instante que dura apenas algumas horas. Mas aeroportos, em essência, são desumanos. Sim, eu sei, você já viu pais, filhos, amigos e amantes chorando abraçados diante da despedida iminente ou do reencontro. Mas isso não tem nada a ver com o aeroporto: é um efeito colateral. Se dependesse da vontade dos idealizadores dos aeroportos, amantes embarcariam em suas aeronaves sem abraços demorados ou lágrimas inconvenientes, mas apenas com uma etiqueta a mais na bagagem: "AVSSDP" (alguém vai sentir saudades deste passageiro).
Nos aeroportos, o que conta é andar rápido, não entrar na fila errada, não se atrapalhar com os documentos, não perder tempo, obedecer. Ninguém vai ao aeroporto para fazer amigos, admirar a arquitetura, se apaixonar. Estamos ali e daqui a pouco não estamos mais. Somos números, estatísticas, consumidores.
Pior que isso. O aeroporto, com sua frieza eficiente, nos obriga a encarar a mais atroz e inescapável de todas as realidades: lá dentro ou lá fora, somos todos, sempre, passageiros.