Em agosto, no auge da repercussão internacional das queimadas na Amazônia, a holandesa Lilly Platt compartilhou no Twitter o apelo de uma índia brasileira que denunciava a devastação em curso na floresta. O vídeo logo viralizou, atraindo a atenção de simpatizantes, mas também das costumeiras hordas de peões da barbárie. Em poucas horas, as redes sociais da garota foram invadidas por imagens pornográficas e ameaças. Detalhe: Lilly Platt tem apenas 11 anos.
Na semana passada, no Rio Grande do Norte, o radialista Gustavo Negreiros disse no ar que Greta Thunberg, de 16 anos, era "mal-amada" e estava "precisando de sexo". Não foi o único homem adulto a perder a noção do bom senso e do ridículo por aqui nos últimos dias. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, nosso candidato a embaixador em Washington, compartilhou com seus seguidores uma foto em que Greta aparece almoçando em um trem enquanto é observada por crianças africanas famintas do lado de fora. Uma imagem tão falsa quanto mal-intencionada e covarde.
Como explicar todo esse ódio dirigido a adversárias que ainda estão na escola e morando na casa dos pais?
Foram tantos – e tão vis – os ataques à jovem ambientalista sueca desde que ela fez o discurso de abertura da Cúpula do Clima na ONU, na última segunda-feira, que o humorista americano Mark Humphries lançou, de gozação, um call center para dar apoio a homens adultos acometidos pela urgência irrefreável de atacar adolescentes que lutam pelas causas em que acreditam. Seria um sucesso se não fosse piada.
Meninas como Lilly e Greta lideram o movimento de jovens que estão exigindo que os adultos deem atenção à grande maioria dos cientistas (97%, segundo dados da Nasa) convencidos de que a tendência de aquecimento do planeta está ligada à ação humana e deve ser endereçada. Por diferentes motivos, muitas pessoas preferem agarrar-se aos outros 3%. Com alguma boa vontade, podemos até respeitar a dúvida honesta, mas como explicar todo esse ódio dirigido a adversárias que ainda estão na escola e morando na casa dos pais?
Para entender por que meninas que falam o que pensam incomodam tanto e por que os ataques a elas em geral envolvem desmoralização, ameaças e alusões sexuais, não precisamos da ajuda da Nasa ou mesmo de Freud. Meninas sempre prestaram-se muito bem ao papel de um certo tipo de inocência idealizada pelos homens – mas apenas se estiverem obedientemente caladas. Ou mortas.