O pensamento mágico é uma forma de dar sentido para aquilo que não se entende e também uma estratégia para lidar com o que escapa ao nosso controle. Para o homem pré-histórico, que não sabia o que era um trovão, imaginar um deus dos trovões e tentar suborná-lo com sacrifícios e oferendas era bem mais confortável do que aceitar a realidade brutal de que ele não era capaz de controlar nem mesmo o cabelo que crescia na sua cabeça, que dirá as tempestades. Esclarecendo a origem de mistérios como os trovões e a calvície, o conhecimento científico tornou-se uma ótima alternativa às explicações mágicas. Infelizmente, nem todos os mistérios ou inquietações têm respostas tão simples, e a espécie humana continuou encontrando conforto no pensamento mágico muito tempo depois de sair das cavernas.
O pensamento mágico ocupa espaços onde faltam ferramentas para apreender a realidade – alimentando-se do medo e da angústia gerados pela sensação de desamparo. Como o bebê é o ser humano mais desamparado que existe, todos começamos a entender o mundo através da fantasia e não da razão. Uma criança acredita que seus pensamentos modificam o mundo, assim como tomará como verdade toda fábula transmitida por adultos em quem confia.
Mesmo depois de adultos, todos temos episódios de pensamento mágico ocasionais. O amor, por exemplo. Qualquer um que já esteve apaixonado sabe como é ver o mundo através de uma lente que distorce a realidade. Somos capazes de inventar todo um futuro de casa, filhos e férias na Bahia com uma pessoa com quem nunca falamos ou de transformar uma migalha de atenção em um bolo de esperanças românticas. Quem nunca. A diferença é que, quando falamos em amor, não costumamos usar a expressão pensamento mágico, mas sim fantasia, ilusão, apaixonamento.
Como o amor, a morte impõe desafios à razão. Em 2005, a escritora americana Joan Didion lançou o best-seller O Ano do Pensamento Mágico, em que narra como lidou com o luto simultâneo do marido e da única filha. Contra tudo o que ela sabia de si mesma até então, foi tomada pelo pensamento mágico: "Havia uma parte de mim que acreditava que o que tinha acontecido poderia ser revertido". Diante da falta de sentido da morte, o pensamento mágico foi um curativo psíquico sobre uma ferida aberta. Mas Didion sabia que aquela muleta não ficaria ali para sempre – por maior que fosse sua dor. Era sua escolha.
Em tempos de fake news e de limites borrados entre verdades e mentiras, tenho pensado muito sobre a sedução do autoengano. Cresci em uma casa com poucos livros e muitas explicações mágicas para a realidade. Nunca culpei meus pais por pensarem como pensavam ou por não valorizarem o conhecimento como eu, fora de casa, aprendi a valorizar. Talvez não tenham tido as mesmas oportunidades que eu tive – ou simplesmente fizeram outras escolhas. Na verdade, é impossível distinguir o pensamento mágico que cresce onde falta informação daquele que nasce da decisão voluntária de permanecer dentro da caverna – tomando como realidade o que são apenas sombras numa parede.