Matt McMullen é o Steve Jobs do sexo – ou o Dr. Frankenstein, conforme o ponto de vista. Trabalhando em uma oficina high tech na região de San Diego, na Califórnia, McMullen está dando os últimos retoques na obra-prima que pode inscrever seu nome na história da tecnologia – ou da infâmia, conforme o ponto de vista. A boneca Harmony é o protótipo de uma nova geração de "sex robots", brinquedos eróticos com recursos de inteligência artificial que devem chegar ao mercado, até o final do ano, por cerca de US$ 15 mil.
Além de tudo aquilo que suas avós de plástico inflável já vinham fazendo, em silêncio, há mais de meio século, Harmony sorri, pisca, boceja, conversa e é capaz de citar Shakespeare (tem tara pra tudo...), mas isso não é o mais impressionante na criação da empresa RealDoll. O que torna esse novo tipo de brinquedo sexual uma espécie de marco zero na relação entre humanos e robôs é o fato de que o dono poderá programar a "personalidade" do seu gadget de silicone. Através da convergência de diversas tecnologias de ponta – do reconhecimento de face e voz ao algoritmo que aprende hábitos e preferências do usuário –, as sexbots serão capazes de contar piadas, falar sobre cinema ou futebol e até mesmo lembrar do aniversário da sogra (a mãe do dono, no caso).
Submissa, com corpo de atriz pornô e sempre disponível para o sexo, Harmony é a materialização de todos os clichês de fantasias masculinas. Como a banalização desse clichê pode afetar relacionamentos do futuro ainda é matéria para suposições. Podemos apenas imaginar como adolescentes vão tratar a primeira mulher de verdade não programada para dizer sempre "sim" que cruzar o seu caminho – ou como relações perversas, como a pedofilia, serão incluídas na prateleira de produtos à disposição dos consumidores interessados em determinados tipos de customização.
Como outros gênios do Vale do Silício, McMullen acredita que sua invenção vai mudar o mundo, diminuindo a solidão e aumentando os índices de alegria do planeta – como um iPod. Uma pesquisa recente realizada no Reino Unido com homens heterossexuais revelou que cerca de 40% dos entrevistados imaginam-se comprando uma sexbot nos próximos cinco anos.