O ano escolar em Porto Alegre começou agitado. Além da insegurança, tema permanente que se tornou ainda mais grave, e das repercussões da página Meu Professor Abusador, que botou em polvorosa colégios e cursinhos nos últimos dias, a campanha "vai ter shortinho sim" coloca um novo assunto na mesa das salas de professores e no pátio do recreio: a "isonomia" de meninos e meninas com relação ao "dress code" da escola. Os guris, historicamente, tinham liberdade quase total para improvisar no figurino, enquanto as meninas deviam se preocupar não apenas com o que era permitido ou não pela escola, mas com o que os colegas (e os professores) estavam pensando sobre as suas roupas.
Desde que os uniformes começaram a ser abolidos dos colégios, tem havido um embate permanente entre o que é adequado ou não no ambiente escolar. Chinelo pode? Boné? Shortinho? Cueca aparecendo? Em geral, as diferentes cobranças feitas a meninos e meninas eram naturalizadas.
Não mais. O que o movimento das alunas do Colégio Anchieta, e outros parecidos que têm pipocado Brasil afora, explicita é que esse tratamento desigual de meninos e meninas não é mais tolerado por uma nova geração de adolescentes. Há duas maneiras de enfrentar esse impasse: encarando a liberdade e suas complexidades ou criando uma norma geral, o uniforme, em que todos são cobrados da mesma forma. O que não dá é para reproduzir, dentro da escola, a diferença de tratamento que vemos na rua - e que, entre outras coisas, redunda em violências que, não raro, culpam a vítima (ou a roupa da vítima) pelo crime. Escolas são um ótimo ambiente para preparar os jovens para o mundo. O que a nova geração de alunas está dizendo é que é preciso preparar os homens para viverem em um ambiente de liberdade em que as mulheres usam shorts e decotes, sem que elas se sintam culpadas ou ameaçadas por isso.
Alô, papais e mamães, ensinem seus filhos lindos e saudáveis a conviverem na paz com meninas bonitas e cheias de saúde sem que elas tenham que mudar o modo como se vestem ou se comportam por causa do desejo (inevitável) deles. E todo mundo fica na boa.
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