De um lado, a nobreza com seus vestidos de luxo, prataria, candelabros magníficos. Do outro, a maioria das pessoas – que, em qualquer época da história, é sempre menos glamourosa, mas nunca mais desinteressante. Os órfãos dos dramas históricos visualmente impactantes mal haviam se despedido da série Downton Abbey, que encerrou seis bem-sucedidas temporadas sobre as primeiras décadas do século 20 com o episódio de Natal do ano passado (ainda não exibido no Brasil), e já estreava no Reino Unido aquela que promete ser uma das grandes produções do ano da televisão britânica. A minissérie Guerra e Paz – adaptação em seis episódios do livro do escritor russo Liev Tolstoi (1828 – 1910) que é considerado, ainda nos dias de hoje, como um dos maiores romances jamais escritos – estreou na BBC no dia 3 de janeiro e vem recolhendo elogios do público e da crítica nas últimas semanas.
A trama se desenrola em dois eixos: a reação da Rússia aos avanços de Napoleão, que invade a Europa oriental sem encontrar a princípio muita resistência, e o cotidiano de três famílias da aristocracia direta ou indiretamente impactadas pela guerra e pelas mudanças em curso na sociedade russa ao longo das primeiras décadas do século 19. Há duas adaptações anteriores do livro que se tornaram clássicas. A primeira, de 1956, com Audrey Hepburn no papel de Natasha, Henry Fonda como Pierre e Mel Ferrer (que se tornaria o primeiro marido de Audrey depois das filmagens) como Andrei, permanece como a versão fixada no imaginário da maior parte do público. A segunda, de 1966, do diretor russo Sergey Bondarchuk, menos conhecida no Ocidente, é em tudo grandiosa como o livro. Com sete horas de duração e uma abordagem menos açucarada do livro, reza a lenda que seria uma das mais caras produções jamais realizadas - em plena Guerra Fria, era natural que o governo russo se empenhasse em oferecer todos os recursos necessários para uma adptação de seu maior clássico capaz de deixar a grandiosa versão hollywoodiana de 10 anos antes com complexo de inferioridade - com elenco estelar e tudo.
Com seis horas de duração, a minissérie da BBC é um pouco mais curta do que a adaptação russa dos anos 60 e coloca ênfase na jornada de Pierre (Paul Dano), personagem que espelha características do próprio Tolstoi - como a tentativa de dar um tratamento mais humano aos servos de suas propriedades e de encontrar a resposta para a mais complexa e universal questão que homens e mulheres vêm se colocando desde o princípio dos tempos: o que estou fazendo aqui neste mundo?