Se o seu problema é encontrar um parceiro sexual nas vizinhanças, alugar um bangalô na Polinésia, controlar a quantidade de copos de água que toma por dia ou aprender a meditar, já existe um aplicativo para você.
Assim como o Google nos acostumou a acreditar que todas as curiosidades podem ser satisfeitas com meia dúzia de cliques, a cultura dos aplicativos sugere que todas as suas necessidades, inclusive as mais íntimas e um dia secretas, podem ser satisfeitas, sem intermediários, com a ajuda da tecnologia.
Neste instante, em um apartamento ridiculamente pequeno alugado por uma fortuna por um nerd ambicioso que se mudou para Silicon Valley há dois meses, um grupo de garotos imberbes de 22 anos deve estar tentando imaginar o que poderia fazer a minha vida mais fácil, mais feliz ou descomplicada para transformar meu problema em aplicativo - e, claro, ficarem bilionários. Continue tentando, pessoal.
Enquanto isso, uma senhora de 63 anos, que anuncia seus serviços em um site comovedoramente tosco, acaba de dar início a sua própria startup inspirada em uma necessidade ainda mais básica e ancestral do que aquela atendida por aplicativos como o Tinder e o Happn. Nina Keneally mora em Nova York e identificou seu nicho de mercado frequentando cafés e sentando em bancos de parque.
Jovens adultos, talvez inspirados pela sua aparência simpática e maternal, costumavam sentar- se ao seu lado para falar a respeito do trabalho, do namoro ou da decisão de se tornarem veganos. Como falariam com as próprias mães - se elas estivessem por perto.
No site Need a Mom (needamomnyc.com), Nina anuncia que, por US$ 40 a hora, ouve seus problemas e dá conselhos, mas sem as lições de moral indesejadas que talvez você recebesse da sua mãe de verdade.
Ela oferece também serviços customizados como preparar sua comida favorita, passar a sua roupa para uma entrevista de emprego importante ou fazer companhia para assistir a um filme. Tudo isso sem nunca esperar presentes e telefonemas e sem reclamar que a tinta azul vai destruir o seu cabelo ou que esse seu último namorado tem cara de vendedor de enciclopédia. Mãe, sim, porém light.
Vamos admitir: não há mãe que não incomode de vez em quando (todos os dias, diria minha filha), mas até dessas chatices a gente sente falta quando elas não estão mais por perto (eu responderia). Porque por mais espaçosa que a sua mãe seja (ou tenha sido) você aprendeu a lidar com as manias dela desde que nasceu - o que, infelizmente, não pode ser dito de todas as outras chateações com as quais você é obrigado a lidar vida afora.
Ao contrário do ditado, mãe não é só uma, são milhares: a que cozinha como ninguém, a que guarda suas fotos, a que o elogia sem qualquer limite de bom senso, a que para tudo que está fazendo para cuidar do seu resfriado - mas também a que posta fotos inconvenientes, dá palpites furados e limpa sua testa com cuspe mesmo se você tiver 40 anos.
Seria necessário um exército de mães de aluguel - ou dezenas de aplicativos - para dar conta de tantas funcionalidades.
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