Não tem nada mais triste do que o fim de uma escola ou universidade. Não tem nada mais desesperador.
É o bem mais precioso definhando. É o adeus com os dedos encolhidos, envergonhados. Um retrocesso vexaminoso para qualquer economia.
O tradicional dueto Faculdade São Judas Tadeu e Colégio São Judas Tadeu, de Porto Alegre, com oito décadas de história e com milhares de profissionais diplomados em sua bagagem, está perto de fechar as portas. Atravessa uma recuperação judicial e amarga uma dívida de R$ 34,4 milhões. A única esperança é que surja um comprador, um benfeitor disposto a manter os serviços e preservar a instituição.
Até o momento, sem nenhuma tentativa de leilão concretizada, a falência é iminente. Serão cerca de 500 alunos sem sala de aula. Serão cerca de 200 professores desempregados. O ano letivo terá seu encerramento simbólico com o pagamento de parte dos salários.
Representa uma tragédia na educação privada gaúcha. Onde realocar o quadro docente?
Recentemente, o Centro Universitário Metodista – IPA, fundado em 1923, suspendeu as atividades. Seu prédio histórico encontra-se em leilão.
Para a sua sanidade financeira, a Ulbra teve que fechar o campus de Gravataí. Pela natureza deficitária, os cursos de Direito, de Psicologia e de Educação Física foram desativados, e 580 alunos transferidos para Canoas.
Por muito pouco, a Ulbra não deixou de existir. Inicialmente tinha uma dívida superior a R$ 10 bilhões. Encampou seu plano de enxugamento e conseguiu sair da recuperação judicial. No mês passado, equacionou a dívida de R$ 6,2 bilhões em tributos federais e assinou a transação tributária com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.
Recordemos que a Unisinos interrompeu, há dois anos, 12 de seus 26 programas de pós-graduação. E muitos deles com nota alta na Capes.
Bem acompanhamos a queda vertiginosa de alunos matriculados nas universidades privadas ano após ano. A taxa de abandono no país é na ordem de 36%.
Há alguns fatores para o desligamento ou abreviação de unidades, como o aumento dos cursos EAD — entre 2010 e 2021, a quantidade de alunos ingressando em cursos de graduação em instituições privadas no formato presencial caiu pela metade, enquanto a de estudantes no formato EAD quadruplicou —, a redução das bolsas do Fies e do Prouni, e mesmo a substituição gradual de professores por tecnologia.
Além das ofertas de nichos específicos, com cursos de curta duração, talvez o que possa salvar o ensino universitário presencial particular seja a geração entre 40 e 60 anos, inspirada por outras áreas de atuação na maturidade, num processo de reingresso. Não são mais os adolescentes, que ocasionaram a explosão de matrículas nos anos 80 e 90. Nem os expoentes da melhor idade, que ansiavam pelo diploma tardiamente e fizeram diferença nas décadas de 2000 e 2010.
É o que aconteceu com o publicitário Marcelo Pires, 61 anos. Depois de trabalhar em algumas das principais agências de publicidade do país e participar da criação de comerciais e campanhas que marcaram época — do garoto-propaganda da Bombril aos carismáticos monstrinhos do Grupo RBS —, decidiu voltar para a classe e cursar Psicologia na Unisinos.
E, de dentro do campus, ele fornece pistas do que precisa mudar. Quem sabe a próxima revolução esteja onde ninguém vê: investir no retorno do contato humano e real.
— Os serviços digitais, excessivos na minha opinião, não são tão eficientes. Sinto que as pessoas se debatem muito solucionando as coisas com aplicativos, e falam pouco entre si. Nas aulas presenciais, metade da turma está sempre espiando o celular.