O Arroio Pelotas perdeu sete jovens remadores. O sol que antes se derramava nas águas foi trocado pelas lágrimas de uma cidade inteira.
Não veremos mais suas canoas desbravando o horizonte. Não poderemos torcer por eles em hipotéticas Olimpíadas.
A promessa de um futuro no esporte garantido por um projeto social acabou sendo interrompida por uma tragédia noturna.
Um acidente na noite de domingo (20), na BR-376, em Guaratuba, no Paraná, causou a morte de nove pessoas: sete adolescentes do clube Remar para o Futuro, de Pelotas, o coordenador técnico Oguener Tissot e o motorista.
Os jovens retornavam de São Paulo, após obter o sexto lugar geral na competição brasileira mais importante da temporada de remo, o Campeonato Brasileiro Unificado, nas raias da USP, numa disputa com trinta e dois clubes, no sábado (19). O coletivo gaúcho ficou na frente do tradicional Pinheiros. Conquistou quatro medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze. Pela primeira vez, obteve o primeiro lugar na prova four skiff.
Já tinha sido difícil garantir a viagem. Por uma questão orçamentária, a equipe não conseguiu carregar os próprios barcos. Na última hora, mediante emenda de vereador, o Executivo cobriu os custos com a hospedagem da delegação.
Como solução para levar todo mundo, optou-se pelo deslocamento terrestre.
Se o aeroporto Salgado Filho já estivesse funcionando na data, se as passagens áreas fossem mais em conta, se o esporte amador recebesse mais patrocínio, nada disso teria acontecido. Eles teriam voado em segurança para as suas famílias.
Assim como parte da culpa recai sobre a estrada — já que a BR-376 é a quinta rodovia mais violenta do país, de acordo com levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), de 2020, e sua insalubridade aumenta em dias de chuva —, não devemos esquecer, em contrapartida, os cuidados necessários para a manutenção de veículos de carga. Não há severidade na fiscalização e no controle de caminhões e carretas, possibilitando a circulação de máquinas mortíferas de grande porte.
Justamente uma carreta sem freios atingiu a traseira da van que transportava os integrantes do projeto Remar para o Futuro.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a van foi projetada para a frente e colidiu com um terceiro veículo. Pelo impacto, rodou e saiu da pista, tombando no desfiladeiro do km 665 da rodovia.
Dos dez passageiros que se encontravam no veículo, apenas um jovem de 17 anos sobreviveu, com ferimentos leves, atualmente internado num hospital em Joinville.
— Daremos apoio para os familiares enlutados do início ao fim do processo. Qualquer coisa que precisarem. Os alunos serão para sempre lembrados como exemplos de inspiração e inclusão — disse a prefeita Paula Mascarenhas.
Há dez anos em atividade, o projeto Remar para o Futuro, mantido pela Prefeitura de Pelotas, com apoio da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), fomenta o remo como modalidade olímpica em Pelotas. Pela sua excelência, já enviou 12 atletas para a Seleção Brasileira de Remo. Oferece bolsas para trinta estudantes da rede pública de ensino com vulnerabilidade social, a partir de aulas de duas a cinco vezes por semana, com amparo de nutricionista, traumatologista, fisioterapeuta, preparador físico, nutrólogo e dentista.
Mais de um quarto da equipe não voltará de São Paulo. A Academia de Remo Tissot, no Recanto de Portugal, ficou estranhamente vazia no início da semana. Não se ouvia a algazarra da turma.
Nunca saberemos quem os remadores juniores se tornariam, se seguiriam carreira ou se dedicariam a outras profissões. Mas sofreremos de saudade por tudo o que eram e representavam: filhos de coração de Pelotas, orgulho da cidade.