Em qualquer lugar que você esteja, verá a natureza gritando por maus-tratos.
A poluição, o buraco na camada de ozônio, o uso indiscriminado de combustível, o desmatamento são responsáveis pelo desequilíbrio climático. As temperaturas nunca foram tão altas e acachapantes. Já não somos um planeta habitável, infelizmente ainda não nos demos conta disso.
Na semana passada, dei palestras no Mato Grosso do Sul, dono de um dos biomas mais ricos e férteis do Brasil — o Pantanal.
A Serra do Amolar, com 3.500 espécies de plantas e 1.200 espécies de animais, flagrou-se em pânico, cortada por incêndios. Antes mesmo do início da temporada de queimadas, em julho, o ecossistema que sustenta o Pantanal estava tomado por fogo de 3 metros de altura, capaz de destruir o que tinha pela frente com a velocidade de 3 quilômetros por hora.
Já foi carbonizada uma extensão equivalente a quatro municípios de São Paulo — 1.500% maior em contraste com o período do ano passado. Nesse ritmo, as chamas ameaçam superar a tragédia de 2020, até então a pior da história, quando 17 milhões de animais morreram.
Não há brigada de incêndio mais rápida do que as labaredas. O acréscimo de dois graus na região, projetado para 2060, está acontecendo precocemente.
Os habitantes de Corumbá convivem com as janelas fechadas pela presença constante de fumaça.
Se o nosso Rio Grande do Sul sofre com as chuvas e com uma enchente que afetou 90% do estado no mês de maio, Mato Grosso do Sul, por sua vez, no outro extremo de tragédia, amarga uma estiagem que dura seis anos e que reduziu a superfície de águas em 60%.
As ondas de calor, intensificadas pelo efeito estufa e pelo fenômeno El Niño, encontraram um ambiente altamente inflamável, propício para a devastação.
Imagine os desastres que o Pantanal ardendo, com uma área de 210 mil quilômetros quadrados, acarretaria para a filtragem de água e o controle de vazões e cheias na América do Sul.
Em minha viagem, enfrentei dificuldades de embarcar, pois a nuvem de fuligem impedia os voos no aeroporto de Campo Grande. Existe, inclusive, a previsão de suspensão de atividades nesse terminal e no de Corumbá.
Curiosamente, aterrissei em Atenas, na Grécia, nesta semana. Logo que pisei na cidade, meu celular não parava de apitar. Era um aviso de emergência:
“Proteção Civil Grécia 29-06-2024 15:50 Incêndio na área de Katsimidi Parnitha. Fique alerta e siga as orientações oficiais. Diretrizes de ação protetora: https://civilprotection.gov.gr/all-diretrizes"
Havia forte incêndio no Monte Parnitha, ao norte de Atenas, com possibilidade de se espalhar para uma reserva natural. Cinquenta incêndios florestais foram registrados no sábado (29), devido ao verão quente, seco, com temperaturas acima de 40 graus, alastrando-se pela força de ventos de 95 quilômetros por hora.
Os reflexos das mudanças climáticas estão em toda parte. Negacionista ou não, ninguém está a salvo.