Completamos uma semana da tempestade que gerou um apagão no estado.
Permanecemos com milhares de pontos sem luz. Milhares de consumidores foram lançados de volta para uma condição paleolítica de existência.
Mesmo diante da gravidade do desastre natural, nada justifica a lentidão cadavérica da CEEE Equatorial, a imobilidade moribunda na Capital e em diversos municípios de sua cobertura.
Já era tempo suficiente, com equipe adequada, com brigada de técnicos especializada, com suplementação emergencial de recursos humanos, para ter resolvido os últimos casos.
Eu mencionei aqui no meu espaço as toneladas de alimentos que caducaram em nossas geladeiras e freezers, ranchos mensais jogados literalmente fora.
Mas ainda existe uma conservação cara e frágil que acabou seriamente danificada: a dos remédios.
Medicações mais elaboradas dependem da refrigeração. Se não ficam numa temperatura entre 2ºC e 8ºC, têm sua eficácia neutralizada.
Quantos pacientes perderam o seu valioso antídoto? Quantos doentes correm risco hoje pela ausência de reposição imediata? Quantos enfermos não terão chance de readquirir os produtos em tempo hábil, ou de armazenar novos com a suspensão da eletricidade?
A situação de sustento familiar extrapola para uma questão extrema de vida ou morte, para a mais rasteira sobrevivência.
Não é brincadeira. Não é metáfora. A falta de luz pode matar.
Entre os remédios termolábeis ameaçados, destaco:
— Vários tipos de insulina para diabetes.
— Colírios para glaucoma.
— Compostos químicos para doenças reumatológicas.
— A maioria das vacinas.
— Remédios de quimioterapia no combate ao câncer.
— Remédios para HIV/aids.
— Remédios para pancreatite crônica.
— Remédios para epilepsia.
— Remédios para esclerose múltipla.
— Remédios para hepatite C.
Se somarmos os casos atingidos, identificaremos milhões de conterrâneos em circunstâncias de grave debilidade. Por exemplo, há mais de 500 mil gaúchos diabéticos, capazes de padecer crises irreversíveis com a escassez de insulina.
Além disso, o Rio Grande do Sul possui o sexto maior índice no país de diagnóstico de HIV: 23,9 casos a cada 100 mil habitantes.
Lembro ainda de Santa Maria, a cidade brasileira com a maior incidência de esclerose múltipla: 27 casos a cada 100 mil habitantes. A proporção se aproxima do dobro da média nacional, de 15 registros a cada 100 mil moradores.
Não dá para desmerecer os danos provocados pelas rajadas violentas de vento, desconsiderar as quedas das árvores, minimizar o caos urbano, porém não existe justificativa para um gerenciamento de crise a conta-gotas. Jamais, em nossa história recente de CEEE, testemunhamos tamanha indolência de assistência e socorro.
Isso que não estou dizendo que é resultado de má vontade. Tenho mantido a minha polidez.
Só que a paciência da sociedade esgotou devido à colossal irregularidade na manutenção do serviço público pela empresa privada.
Minha vontade é falar que os remédios de impotência também estragaram: impotência administrativa.