A vitória de 3 a 2 no Gre-Nal não apagou a ferida colorada da eliminação absurda e apática para o Fluminense na semifinal da Libertadores. O triunfo não apaziguou os ânimos. No máximo, isolou o torcedor do Internacional da flauta e da corneta dos gremistas.
É como se pudéssemos sofrer sozinhos, sem a zombaria da vizinhança. O Clássico 440 garantiu paz para a nossa dor, apenas isso, para doermos tranquilamente a nossa fossa.
Mas ela não vai desaparecer com facilidade. Já acredito que nunca sumirá. Seu registro estará definitivamente no meu DNA, até os meus tataranetos. Repassarei essa incurável e amarga melancolia como informação genética pelo meu sangue.
Ouso dizer que foi a pior derrota da história do Inter devido a seu ingrediente trágico e repentino. Superou o tombo perante o Olimpia na semifinal de 1989. Porque, naquela ocasião, houve a decisão por pênaltis, a sorte e o azar das cobranças feitas no desespero.
Se perdêssemos para o Fluminense nas penalidades, aceitaríamos, seguiríamos adiante. Reconheceríamos o empenho do grupo.
Só que, na quarta-feira passada, predominaram incompetência, desleixo, desatenção. Nada justifica a entregada bisonha nos 10 minutos que restavam da partida, quando vencíamos com segurança, próximos do apito final.
Coudet não é o culpado. Ele haveria comprado briga se estivesse fardado. Já não era mais para ter jogo. Era para ter chutado tudo para longe. Era para ter armado confusão. Era para ter esfriado o adversário. Era para ter caído demoradamente na catimba. Era para ter forçado expulsão. Qualquer evento que não deixasse o perigo rondar Rochet e parasse eternamente o cronômetro.
Não dá para supor que foi ingenuidade. A equipe careceu de identificação com o clube naquele momento. Poderia ser um embate importante, continental, televisionado para cada jogador, mas não entenderam que significava a nossa vida.
Faltaram ali noções mínimas de garra de um Índio, de um Figueroa, de um D'Alessandro, de um Fernandão, de um Iarley.
Como o plantel ofereceu de mão beijada a vaga para o Tricolor das Laranjeiras, logo o algoz da derradeira partida de nosso rebaixamento?
Ninguém se lembrou de nada, ninguém pensou em honra, vingança e justiça, ninguém consultou os arquivos recentes de nossas pendengas sentimentais?
Jamais deveríamos permitir que os artilheiros Cano e Kennedy aparecessem em nossa área livres de marcação.
Não tínhamos aprendido com a bobeira no Maracanã, cedendo um empate apesar de contar com um a mais em campo?
Já tentei voltar ao dia 4 mentalmente, para recuperar os trilhos do tri dos sonhos, em que poderíamos passar pelos dois gigantes da Argentina ao enfrentar Boca Juniors na sequência.
Porém, o tempo não retorna. O tempo é cruel.
Nem a superação do Gre-Nal acalmou a batalha perdida em rara Libertadores. O que me atormenta é que as Ruas de Fogo são realizadas do lado de fora do Beira-Rio, não pelos nossos jogadores dentro do gramado.
Experimentamos um looping infinito, em que Renê consegue tirar a bola antes de entrar, Vitão não se precipita na marcação em Marcelo, Enner endireita a cabeça e os pés em seus arremates fáceis para o gol.
O principal rival do Inter não é mais o Grêmio, mas o próprio Inter. Ele vive lutando contra a sua grandeza.