Quando você sentir que o casamento anda morno, que já não se falam como antes, que já não se beijam como antes, que já não atravessam a madrugada com cálices de vinho ouvindo música como antes, que já não surte efeito a pimenta da coreografia sensual e das roupas íntimas novas como antes, que os treinos pesados na academia não melhoram o desejo como antes, que nem as viagens românticas garantem aquela cumplicidade como antes, que sequer terminam um filme no sofá como antes, que viram para lados opostos na cama sem um último olhar e aconchego, terá chegado a hora de usar o último recurso para evitar o divórcio: a reforma em sua casa.
Chame os pedreiros para salvar o relacionamento. Reforma é tão impactante quanto terapia de casal, só que muito mais cara.
Invente algo para fazer em seu território. Um puxadinho. Uma ampliação.
Derrube divisórias, transforme o quartinho em escritório, crie uma cozinha americana, suíça, holandesa, sonhe com uma varanda para pôr uma rede, levante um jardim aéreo na área de serviço.
Nenhuma discussão será pior do que negociar valores com engenheiro e com mão de obra. Nenhum problema será maior do que a planilha de materiais.
Unidos em torno da construção, esquecerão as divergências por um bom tempo.
Ficarão obcecados com a oscilação dos preços nas ferragens.
Abandonarão a raiva mútua ante os inimigos em comum — os prazos e a chuva —, transferindo o ódio para outro lugar.
Terão assunto para comentar todo dia, picuinhas para reclamar toda hora.
Começarão a se abraçar novamente, a se proteger das críticas alheias, a louvar os sacrifícios de ambas as partes diante do vaivém dos gastos.
Encontrarão o inferno dos adiamentos, num parcelamento infinito do término do projeto.
O que mais vão querer é voltar à rotina. Sentirão saudades do ócio, da paz, da tranquilidade de outrora. Descobrirão que eram felizes e não sabiam.
Reforma é uma outra noção da existência. Não tem espaço para desavenças particulares.
A obra que iria durar 30 dias acabará durando seis meses e não haverá como voltar atrás pelo caos, poeira e confusão de cimento nos aposentos. O livre trânsito se mostrará inviável com andaimes, caçambas, carrinhos de mão, escadas pelos corredores.
Só existe um caminho: seguir adiante, torrar as economias pela redenção, jamais interromper tudo o que foi feito até então.
O orçamento que era para ser X será de três vezes X, e vocês precisarão somar as forças e os salários.
É uma lição de humildade. Perceberão o valor de cada lâmpada, de cada interruptor, de cada azulejo, de cada tijolo. Enxergarão a alma das paredes, por onde passam a água e os fios elétricos. Terão noção do esqueleto e da planta residencial — estarão como unha e carne contra os revezes das instalações.
Faça uma reforma para não brigar com o marido ou com a esposa. É um remédio tarja preta para o tédio. Um exorcismo dos aborrecimentos.
Vida eterna para o material de construção.