O caráter do amor é ser provisório. Se você entra num relacionamento com um projeto de eternidade, de passar o resto da vida com a pessoa, colocará a régua muito acima da razoabilidade. Ninguém suportará concorrer com o seu amanhã.
Se a sua companhia é comparada todo dia com a sua linha futura de tempo, a relação não sobreviverá. Não há como se igualar. Tem que ser perfeita para se conservar ilesa às exigências da longevidade.
Mas, se você buscar com a régua uma presença necessária e agradável para melhorar o seu dia, terá mais tolerância com as imperfeições, além de se mostrar mais saudável emocionalmente.
Não convém enxergar a mulher ou o homem com quem escolheu conviver como o amor da sua vida, e sim da sua semana, do seu mês.
Se olhar para o lado e raciocinar que aquela figura é para a sua existência inteira, será esmagado pelo peso da responsabilidade, ficará assustado, não desejará tamanho e temerário investimento.
Mas, por outro lado, se pensar que é a mais oportuna e adequada para os seus próximos dias, encontrará leveza, espontaneidade, e não se verá pressionado a tomar grandes decisões. Poderá curtir os momentos com desembaraço, aceitando o improviso e perdoando o acaso.
A idealização almeja liquidar o futuro, não se incomodar mais com o assunto. O entendimento de que somos somente o nosso presente desestressa a partilha.
Ao diminuir a ambição, você reage com gratidão aos pequenos instantes. Não se sentirá coagido a resolver a posteridade antecipadamente. Pois olhar exageradamente para longe nos cega para a realidade mais imediata.
As garantias matam o amor, geram medo de ter optado mal. Matam a confiança. Profecias nos põem a andar para trás, com incomensurável suspeita.
Seu par não deve ser cotejado com o vasto porvir de acontecimentos, porém unicamente com a fase atual de sua vida (que talvez mude, que talvez não perdure).
Amor é aos poucos, aos goles, a curto prazo.
Todo carinho é elaborado diariamente. Relacionamento é formado de chamas rasas, não labaredas altas, que logo apressarão as cinzas.
São os gravetos que fazem a fogueira prosperar, iluminar, aquecer. As gentilezas ínfimas, os gestos possíveis, as delicadezas.
Sem os gravetos, as lenhas pesadas não queimarão. Os gravetos atalham a luz.