Danuza era tão linda, mas tão linda, que o cronista Antônio Maria, durante o seu casamento com ela, dizia que, ao olhar os dois juntos abraçados diante do espelho, morria de ciúmes dele mesmo.
Danuza Leão morreu nesta quarta-feira (22), aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
Mas não era apenas um rosto bonito. Era uma intensa e inesquecível intelectual.
Se Andy Warhol tivesse nascido nos nossos trópicos, ele a pintaria no lugar de Marilyn Monroe.
Danuza foi a figura feminina mais importante da segunda metade do século 20 no país.
Ela continuou a gravidez dos sonhos e ideais de Leila Diniz. Ninguém viveu como ela. Não há páreo. Esteve em cada pedacinho de nossa história. Em cada página. No cinema, na música, na literatura, no comportamento, na moda.
Tornou-se a primeira brasileira a desfilar no exterior; atuou no clássico filme político de Glauber Rocha, Terra em Transe, premiado no Festival de Cannes; participou do surgimento da bossa nova em seu apartamento em Copacabana, na zona sul do Rio, incentivando o talento da sua irmã, Nara Leão; modificou o entendimento da etiqueta com o livro Na Sala com Danuza, que ficou na lista dos mais vendidos durante um ano; ganhou dois Jabutis com uma obra sobre a sua memória e outra sobre suas viagens; conversou com os leitores em suas colunas na Folha de São Paulo, em O Globo e no Jornal do Brasil; enfrentou o tabu do divórcio, nos anos 1960, com o homem mais poderoso da imprensa na época, Samuel Wainer, fundador do jornal Última Hora; dizia o que pensava e pensava o que sentia; normalizou a minissaia, o anticoncepcional, a liberdade de ser e o protesto.
Como assinala Ruy Castro, seu confidente: ela esteve presente em todos os golpes de Estado, exílios, comícios, passeatas, desfiles, decisões de campeonato, amores e desamores.
Ela entendia muito de tudo. Entendia que não bastava apenas ouvir, mas ouvir com afeto. Entendia que o grande segredo da felicidade se resumia a conhecer e respeitar os próprios limites. Entendia que a simpatia não deveria ser confundida com submissão. Entendia que autenticidade não fazia fiado, realizava os sonhos no ato. Entendia que elegância era coragem. Entendia que visitas tinham hora marcada e amigos tinham salvo-conduto para aparecer quando quisessem. Entendia que a falsidade destruía mais a convivência do que a oposição declarada. Entendia que relacionamentos acabavam quando a admiração ia embora. Entendia que não existia melhor presente do que uma passagem para viajar.
Danuza voou para longe. Sem volta. Aceno para o céu com reverência. Seu perfume deixa o mar de Ipanema mais salgado, mais vivo.