Mana amada, Cíntia,
Sua mãe partiu. Geni se despediu na manhã desta quarta (19). A dor de perder uma mãe é a de um parto sem filho saindo. Sem nenhuma respiração, grito, vindo do outro lado.
É um sofrimento sem braços e sem pernas para se apoiar. Você só cai dentro de si. Levanta e tomba de novo esquecendo que não tem mais alicerces, é enxergar a vida como antes não sendo nunca mais como antes.
Arrancaram-lhe qualquer membro que pudesse segurar a memória. A saudade nos empurra para trás. É viver o que já foi vivido eternamente.
A morte é o aniversário da dor, o aniversário da ausência, jamais esqueceremos desse dia em que alguém que amamos não está mais aqui.
Você chora e parece que não está chorando. Parece que não começou a chorar. Parece que ainda tem que chorar tudo.
Você escuta a voz materna ainda recente em seus ouvidos, mas não pode perguntar e corrigir distrações. Não há mais segunda chance. Todo lapso é fatal.
E se eu lhe contar que hoje sonhei que a minha mãe tinha morrido? Passei o pesadelo soluçando. Eu caminhava a pé do meu apartamento em Petrópolis até a sua casa no Moinhos de Vento, para lhe dar a notícia. Ficava procurando, no trajeto, um jeito de comunicar o adeus com menos mágoa, com menos culpa.
Descubro de manhã que era a sua mãe, não a minha. Mas é também a minha mãe, já que somos irmãos de experiência.
Estou angustiado junto, o que não diminui em nada a sua angústia.
Eu não sei mesmo como contar que Geni morreu. É terrível. Desculpa. Vou demorar para chegar.
Meu beijo,
Fabrício Carpinejar