A execução de um desafeto do PCC (Primeiro Comando da Capital) em plena luz do dia no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), o mais movimentado do país, é um alerta preocupante para todos nós. A demonstração de violência, em local de grande circulação de pessoas, expõe o poder das facções criminosas e a sua capacidade de operar sem temer as consequências. O ataque, que resultou também na morte de um motorista de aplicativo, faz parte de um contexto de infiltração do crime organizado em vários setores da vida nacional.
O episódio de Guarulhos precisa ser visto como um clamor para que o país se movimente em busca de soluções urgentes e efetivas
A expansão desses grupos, com estruturas cada vez mais complexas, representa uma grave ameaça à segurança pública, à economia e à própria democracia. A consequência negativa mais imediata é o aumento da violência, em função das disputas entre os próprios criminosos e das ações policiais para combatê-los. Em seguida, vem a corrupção decorrente das relações espúrias entre os bandidos e agentes públicos. Na economia, a atividade criminosa impõe concorrência desleal, sonega impostos e desestimula o bom empreendedor. Por fim, o enraizamento das quadrilhas nas instituições fragiliza a confiança do cidadão nas autoridades e em seus representantes.
Essa consolidação de poder se dá por meio de facções que atuam de maneira muito bem estruturada, com redes de apoio e comunicação que superam muitas vezes as do próprio governo. Dias antes do atentado em Guarulhos, o Ministério da Justiça divulgou o mapa das gangues feito pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), que identificou 88 facções atuando em 1.760 prisões brasileiras. Duas delas têm abrangência nacional, sendo que a maior mantém relações estratégicas com grupos criminosos internacionais, como a máfia italiana, e fatura anualmente cerca de US$ 1 bilhão, o equivalente a mais de R$ 5,7 bilhões.
Enfim, estamos diante de um fenômeno que ronda a segurança pública e o Estado de direito em escala preocupante. Por tudo isso, o episódio de Guarulhos precisa ser visto como um clamor para que o país se movimente em busca de soluções urgentes e efetivas. Ignorar esse quadro é colocar em risco o futuro e a segurança de todos. Não é alarmismo. É a nossa triste e perigosa realidade.