A meta de aumentar o comparecimento às urnas no segundo turno recebe atenção especial dos candidatos, em especial dos que chegam à reta final da disputa com a menor votação. Esses enxergam nos eleitores ausentes um manancial de votos capaz de melhorar seu desempenho e, eventualmente, mudar os rumos do pleito. No caso de Porto Alegre, o número a ser trabalhado é bastante expressivo. A abstenção no primeiro turno chegou a 31,52%. Significa que mais de três em cada 10 eleitores inscritos deixaram de votar. Em valores absolutos, foram 345.544 ausentes, cifra que superou a votação individual de todos os candidatos, inclusive a de Sebastião Melo, que foi o primeiro colocado com 345.420 votos. Se nulos e brancos forem incluídos, o total salta para 401.935. É muito voto. Em tese, quantidade suficiente para modificar o placar do pleito.
Em vez de cair, a abstenção na capital gaúcha geralmente aumenta no segundo turno, como demonstram os dados oficiais do Tribunal Regional Eleitoral
No entanto, entre a teoria e a realidade, a distância é grande. Acontece que, em vez de cair, a abstenção na capital gaúcha geralmente aumenta no segundo turno, como demonstram os dados oficiais do Tribunal Regional Eleitoral. Conferi o resultado das 12 eleições realizadas em Porto Alegre entre os anos 2000 e 2022. Em 10 delas, a ausência cresceu no segundo turno. As exceções foram as duas últimas, que registraram mais votantes na comparação com o primeiro turno. Em ambas, porém, o acréscimo foi irrisório, incapaz de interferir no placar final. Há quatro anos, na eleição municipal de 2020, foram apenas 3.525 pessoas a mais. Dois anos depois, no pleito geral de 2022, o crescimento foi ainda menor: 2.398 eleitores.
Ou seja, a estatística eleitoral mostra que aumentar a votação no segundo turno a partir de maior presença nas urnas segue como um grande e inalcançável desafio. É como na fábula do pote de ouro no fim do arco-íris: todos sonham com ele, mas ninguém consegue encontrá-lo.
Minha análise dos resultados também deixou evidente a preocupante curva ascendente da abstenção em Porto Alegre em duas décadas. Nesse período, o menor percentual foi verificado no primeiro turno da eleição geral de 2002, com a ausência de 11,87% dos porto-alegrenses aptos a votar. Desde então, esses índices só têm aumentado. O pior cenário foi registrado no primeiro turno da eleição municipal de 2020, quando 33,08% não compareceram. Naquela ocasião, havia uma justificativa: a pandemia de covid-19 ainda estava em alta e as pessoas evitavam sair de casa, com medo do risco de contaminação.
Em 2024, não há nada parecido que justifique ausência tão grande, o que compromete a fama de capital altamente politizada que Porto Alegre sempre ostentou.