Pablo Marçal é um fenômeno político que vai além da disputa pela prefeitura de São Paulo. Mesmo fora do segundo turno, o ex-coach obteve impressionantes 1.719.274 votos, tornando-se o quarto candidato mais votado do Brasil em números absolutos. Ficou atrás apenas de seus dois adversários diretos, Ricardo Nunes (1.801.139 votos) e Guilherme Boulos (1.776.127 votos), e do prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (1.861.856 votos). A sua eliminação se deu por apenas 0,93 ponto percentual no maior colégio eleitoral do país, com mais de 9,3 milhões de eleitores.
O episódio mais curioso (nas eleições de São Paulo) aconteceu em 1959, quando o descontentamento com os políticos da época transformou a rinoceronte Cacareco na mais “votada” para a Câmara de Vereadores, com mais de 100 mil votos
Esse resultado notável foi obtido em contraste com a estratégia dos demais candidatos: sem tempo de rádio e televisão, sem financiamento partidário, sem alianças e como representante de uma sigla sem parlamentares. O grande trunfo de Marçal foram as mídias sociais, que ele sabe utilizar com grande maestria. Bom comunicador, especialista em edições e cortes, apostou no discurso da antipolítica para atrair milhões de seguidores fiéis.
Marçal, é certo, não foi o primeiro a desafiar a política tradicional. No seu caso, o perigo para a democracia é a ruptura ser promovida por uma figura carente de preparo político e propostas concretas. Sem qualquer compromisso ético ou moral, ele não hesitou em tumultuar o processo eleitoral por meio de ofensas, acusações infundadas e mentiras. Chegou a apresentar um atestado médico falso para prejudicar Guilherme Boulos. Deixou claro ser um oportunista em defesa de um projeto pessoal, sem compromisso realmente sério com o desenvolvimento da maior cidade da América Latina.
Consagrado pelos milhares de votos que recebeu, não será surpresa se replicar o mesmo método nas eleições gerais de 2026. A menos que tenha os direitos políticos cassados por conta dos exageros que cometeu, o que seria muito bom para quem defende eleições com um mínimo de decência e civilidade.
O caso Marçal me fez lembrar que São Paulo tem histórico de esquisitices eleitorais. O episódio mais curioso aconteceu em 1959, quando o descontentamento com os políticos da época transformou a rinoceronte Cacareco na mais “votada” para a Câmara de Vereadores, com mais de 100 mil votos. Protestos bem-humorados como esse são coisa do passado. Os cacarecos de hoje são falantes e se movimentam no cenário político com a mesma delicadeza de um rinoceronte de verdade em uma sala de cristais.