Parece placar de jogo de futebol ou tamanho de foto para documento, mas estamos falando sobre quantos dias de trabalho cabem em uma semana. A discussão que ganhou a internet nos últimos dias tem um motivo para isso e, se nos fizer refletir, já será um avanço. Nem 6x1, nem 4x3. Talvez o caminho seja o 5x2.
Trarei alguns elementos para pensarmos juntos, mas já adianto que minha opinião é de que é muito ruim o regime de trabalhar seis dias seguidos para folgar um. Ao mesmo tempo, é preciso tratar do tema com muita responsabilidade e enxergando todas as camadas da discussão.
Não é impressão quando achamos que as pessoas estão cansadas e que usam esse dia de descanso para dormir, faxinar a casa e sortear com quem vai conseguir conviver. Isso é fato para quem vive essa escala. Muito cansaço, pouco tempo com a família. Para as mulheres é ainda pior, já que a maioria tem jornada dupla, cuidando dos filhos e da casa, além do trabalho, todos os dias.
Em primeiro lugar é preciso lembrar que o Brasil é um país gigante e tem muitas realidades. É enganoso pensar que todos temos as mesmas 24 horas por dia para usar, como se partíssemos de uma mesma conta. Boa parte da população passa três horas no ônibus indo e voltando do trabalho, enquanto outros trabalham de casa ou têm o privilégio de morar perto do trabalho. Aí já começam as diferenças básicas.
O país da desigualdade também vê pessoas que ganham R$ 1.412,00 e outras com vencimentos que passam dos R$ 44 mil. Uma parte, a dos autônomos, não tem férias nem licença-maternidade, muito menos ganhos fixos. Se não trabalhar, simplesmente não tem renda. A maioria tem 30 dias e descanso. Uma minoria tem 60 dias de férias por ano.
A conta não tem como fechar. Falo da conta da vida neste caso, não a financeira, que é outra ponta igualmente importante. Seis dias seguidos de trabalho, mais deslocamentos, mais tarefas domésticas, deixam qualquer pessoa exaurida. A sociedade do cansaço é a nossa. Mas não estamos sozinhos. Na China a coisa é mais maluca ainda. Já países que começaram a testar jornadas menores, têm mantido o novo regime, como Alemanha e Itália. A realidade econômica é diferente em cada uma delas.
A questão é super complexa. Um mercado, ou uma loja de roupas, para pensar em exemplos hipotéticos, não podem simplesmente dar uma folga a mais e fechar neste dia. Se um funcionário trabalhar um dia a menos como regra, o local precisará contratar mais gente para suprir a demanda de atendimento.
Em outros empregos é possível produzir até mais em menos tempo, diante da possibilidade de também ter mais tempo para descanso e lazer. De novo, são várias realidades em um mesmo país.
Subestimamos, como sociedade, o respeito a parar e fazer nada por algum instante. Nem todos podem se dar a esse luxo, por isso é preciso falar sobre isso.