Ainda estou encafifada com o alto número de pessoas que não foram às urnas no último domingo. Se abstenção fosse o nome de um candidato, teria mais votos do que o primeiro colocado em Porto Alegre, o atual prefeito Sebastião Melo. No total, 345.544 pessoas não foram às urnas na capital. São 124 a mais do que os votos de Melo.
Em outras cidades gaúchas o percentual também ficou acima dos 30%. É muito perto da ausência na eleição de 2020, quando muita gente estava hospitalizada ou com medo da pandemia de Covid-19, que estava no seu auge.
Conversei com muita gente nesta semana, mas mais do que especialistas precisava ouvir eleitores. Chego à conclusão de que há um conjunto de fatores para explicar, mas o principal é óbvio, e o óbvio precisa ser dito e gerar reflexões para a sociedade e para os políticos.
Uma leitora me escreveu no começo da semana dizendo que não perderia tempo do seu domingo indo votar em candidatos que não lhe representam. A palavra que mais ouvi de outros eleitores que não foram às urnas foi descrença. Pessoas que não acreditam mais na política, que até poderiam ter se deslocado, mas não fizeram esforço para registrar voto em quem não vai mudar sua vida. A falta de propostas claras para as cidades, a falta de olhar para o problema que não está nos holofotes, a necessidade de os políticos entenderem para quem trabalham, afinal de contas.
Todas essas são justificativas de quem preferiu aproveitar o fim de semana até viajando, já que não via na eleição uma oportunidade de melhorar sua cidade através do voto. Eu não julgo quem pensa assim, mas ainda tento mostrar aqui a importância de, sim, ajudar a decidir. Mesmo sabendo que os eleitos muitas vezes fecham os olhos e os ouvidos e se trancam em seus gabinetes esquecendo o porquê de estarem ali.
Não posso achar normal que tanta gente deixe de usar um poder importante da democracia. Os candidatos precisam estar atentos a esse protesto da ausência. Dos milhares que não acreditam neles e nos seus projetos.
Há dezenas de chances de se informar neste segundo turno sobre os candidatos das cinco cidades gaúchas que só definirão seus representantes no fim deste mês. Em Porto Alegre, a Gaúcha já realizou o primeiro debate na última quinta-feira. Ele segue disponível em GZH. Em Caxias o debate ocorre no dia 15 de outubro, às 8h10, para a Gaúcha Serra. Na Zona Sul, o debate de Pelotas será no mesmo horário do dia 17. Em 18 de outubro será a vez da Gaúcha Santa Maria. Para fechar, o debate de Canoas será no dia 21, às 15h. Talvez esses encontros ajudem o eleitor a ouvir e enxergar a importância de escolher e de votar para ter cidades melhores. Não podemos jogar a toalha.