A corrida olímpica já iniciou para algumas modalidades. O atletismo, competição mais tradicional do programa dos Jogos, passará a somar pontos e ter atletas em busca por índices pré-estabelecidos a partir de maio. No Brasil, quem está de olho nesse processo de qualificação é Jaqueline Weber, dos 800 metros rasos. A gaúcha de Teutônia mira Paris-2024 e faz uma preparação especial para atingir a classificação, o que inclui um período de treinos na altitude, na Colômbia.
Jaqueline ficou perto da vaga para Tóquio, mas a evolução que vem apresentando a torna potencial candidata a ser uma das representantes da equipe de atletismo do Time Brasil na capital francesa. Em pré-temporada ela conversou com a coluna e falou sobre como será esse ano pré-olímpico.
A pré-temporada está acontecendo na altitude da Colômbia. E depois o calendário duro da temporada?
Na Colômbia, um período de treinamentos em Paipa, na Colômbia, no departamento de Boyacá, a quase 2,6 mil metro de altitude, para ter alguns ganhos que (o treinamento) na altitude nos traz. E no retorno eu viajo para o Uruguai, para a estreia na temporada. A ideia é estar no auge em maio, temos o GP Brasil, depois competições na Europa, Troféu Brasil, Campeonato Sul-Americano, tudo pensando nos Jogos Pan-Americanos, que é o principal objetivo da temporada. É uma grande competição, tem uma visibilidade muito grande. Estando lá tenho o desejo de conquistar uma medalha, que seria muito legal pra minha carreira.
E a corrida olímpica para Paris-2024. Como você vai encarar ?
A partir de junho começa a janela olímpica. Por isso estamos pensando do meio pra frente do ano, porque começa a corrida por índice e pelos pontos para participação nos Jogos Olímpicos. Estamos escolhendo a dedo as provas. Se quisermos apenas competir, tem prova todo final de semana, aqui no Brasil, na América do Sul. Mas tem competições que pontuam mais, como Troféu Brasil, Sul-Americano e GP Brasil, assim como as competições na Europa, que também tem um nível técnico melhor.
E a escolha das provas, das competições. Você vai priorizar alguma ?
Aproveitar para estar muito bem e melhorar marcas pessoais e começar a mirar esse ano ainda a marca mínima (índice olímpico), que é 1min59seg80 (para os 800 m rasos). Mas é um processo natural, que a gente vai sentindo. Mas as provas serão escolhidas estrategicamente por pontos e nível técnico.
O calendário desse ano será mais extenso, porque o Pan será entre outubro e novembro. Isso dará menos tempo para se preparar para Paris?
Por isso que esse ano se torna importante, porque o que foi for feito até novembro pode até me qualificar para a Olimpíada. Eu estando qualificada vou ter 6,7 meses de trabalho mais tranquilo, se for por índice. Mesmo por pontuação, o Pan e o Sul-Americano já valeram pontuação para o ano que vem, são muito importantes. Então mesmo que não se classifique totalmente por pontos, fazendo boas competições esse ano, a gente bota um pé e meio na Olimpíada do ano que vem. É por isso que estamos segurando para estar bem a partir de junho, quando a janela começa. E depois terá um período de descanso para fazer uma temporada mais curta e objetiva em 2024. Mais treinos e provas ainda mais específicas para garantir a vaga e chegar bem na Olimpíada, porque chegando lá eu ao menos quero passar do primeiro tiro (eliminatória), correr a semifinal e ai a sorte estará em jogo.
O que significa estar nos Jogos Olímpicos?
A Olimpíada é o sonho de qualquer atleta, mas o legal é quando ela passa a ser um objetivo. Muda um pouco. Até 2016 era muito um sonho. 2020 já começou a ficar objetivo pra Tóquio, que acabou sendo 2021. Paris mais do que nunca é palpável. Pra mim é como se fosse o auge de tudo, que trabalhei, de toda a carreira de quase 18 anos de carreira. É um misto de emoções, de sensações, que tem que controlar e usar como um combustível pra fazer isso acontecer. E viver isso ao lado do Fabiano (Peçanha), que não é só meu treinador, mas meu noivo também. E ele teve estas vivências e sabe dessa emoção, da expectativa e viver isso com ele e com as pessoas que nos rodeiam é espetacular. Nossos amigos já estão se programando para viajar para Paris, mesmo eu não estando qualificada. E isso gera ainda mais vontade de fazer isso acontecer de fato.
Você e o Fabiano Peçanha tocam o projeto social Associação Medalha de Ouro (AMO), que atende cerca de 50 crianças. O que elas contribuem nessa tua caminhada olímpica?
Estar com elas (crianças) é voltar um pouco no meu passado. É lembrar de como foi pra mim no início e como aquilo era um sonho e o quanto eu caminhei, evoluí e como isso está perto. Às vezes que eu venho aqui e converso com eles, é voltar no passado e lembrar de tudo que eu passei, percorri pra chegar até aqui, ver que está mais perto e que realmente eu sinto que sou um espelho pra eles. Isso é legal, traz um outro lado, de idolatria, onde o atleta entende a sua responsabilidade na sociedade, de inspirar as crianças, as pessoas, de terem objetivos e lutarem por eles e isso serve de combustível.
E nesse contato, troca de experiências é possível ? Imagino que elas tenham muitas dúvidas e curiosidades.
Eles têm curiosidades de tudo quanto é tipo. Questões de treino, sobre a rotina, sobre as línguas que falo. Me chamam de "profe". Perguntam quantos países conheço. Das experiências de viagem e da bagagem cultural. Quando posso, vou com eles nas competições, festejo medalhas, vivencio as frustrações junto com eles.