Fevereiro de 2019. Recebo uma mensagem da jornalista Rafaela Meditsch, que hoje exerce a função de diretora de comunicação da Federação Gaúcha de Tênis (FGT). Nela, a pergunta se eu tinha interesse em ir até a Associação Leopoldina Juvenil para entrevistar Juan Carlos Ferrero, o ex-número 1 do mundo, que foi um dos grande rivais de Gustavo Kuerten.
Na conversa, ela me informou que Ferrero estava em Porto Alegre para acompanhar seu mais novo pupilo, um menino que à época ainda tinha 15 anos. Seu nome, Carlos Alcaraz. Com o auxílio do Eduardo Frick, ex-jogador, treinador, e que era o Gerente de Esportes e Eventos da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), uma entrevista poderia ser intermediada. E assim foi.
Cheguei ao Leopoldina Juvenil no final de uma manhã e esperei para conversar com o "Mosquito", apelido que o ex-tenista espanhol carregou em seus tempos como uma das estrelas do circuito da ATP. Quando ele chegou fomos para a área próxima a piscina, e tentei extrair o máximo possível de um dos maiores jogadores da história do tênis.
Na conversa, falamos sobre Guga, Nadal, Federer, Djokovic e muito mais. E, claro, sobre Carlos Alcaraz. Ferrero se disse muito motivado e afirmou: "Ele tem muita qualidade, um grande nível, apesar de ter apenas 15 anos". Naquele momento, a parceria, que hoje está consagrada com a liderança do ranking mundial e o título do Aberto dos Estados Unidos, tinha apenas seis meses.
Mas apesar do pouco tempo com o pupilo, Juan Carlos Ferrero via um futuro muito promissor.
— Com um jovem, se faz um trabalho completo físico, porque está crescendo, mentalmente tem que trabalhar muito, e em quadra também — me contou olhando o relógio, já que em alguns momentos, Alcaraz deixaria a academia para se dirigir à quadra para treinar e esperar a partida seguinte.
Desejei sorte ao espanhol e que ele pudesse fazer sua promessa brilhar no circuito, como já fazia o alemão Alexander Zverev, que também passou por suas mãos no começo da carreira. Na sequência, ainda dei uma breve espiada no futuro número 1 em ação.
E o Carlos Alcaraz que se viu em Porto Alegre tinha características que se exaltam hoje, três anos e meio depois. Atitude, foco, concentração extrema, determinação e com golpes muito potentes, além de uma coragem absurda.
Claro que tudo isso foi potencializado nesse período e aperfeiçoado pelo trabalho de Juan Carlos Ferrero. Aliás, a Rafaela Meditsch fez o único registro em áudio e vídeo do Alcaraz em Porto Alegre, logo após ele vencer sua partida de quartas de final.
Na gravação, ele se apresenta, se diz feliz por chegar à sua primeira semifinal de Grupo A, a principal do circuito juvenil depois dos Grand Slam, elogia o nível do torneio, dos adversários e como um adolescente de 15 anos está um tanto tímido.
Alcaraz não levou o troféu em Porto Alegre. Ele perdeu na semifinal para o americano Martin Damm, hoje número 472 do mundo. O campeão seria o argentino Thiago Tirante, atual 171 da ATP.
Imagino que naqueles dias, mesmo que já fosse apontado com um dos jogadores de maior potencial para o futuro, nem Carlos Alcaraz nem Juan Carlos Ferrero imaginariam que o topo do mundo seria atingido tão rapidamente.
E essa presença deles, aqui em Porto Alegre, nas quadras da Associação Leopoldina Juvenil, mostram a importância de competições de base como o Campeonato Internacional de Porto Alegre, que por muitos anos, foi chamado de Copa Gerdau, e que foi palco para jogos de Gustavo Kuerten, Andy Roddick, David Nalbandian, Jo-Wilfried Tsonga, Juan Martín del Potro, Eugenie Bouchard, Barbora Krejciková e Leylah Fernandez, entre tantos outros grandes nomes que nos acostumamos a ver.