O uso sustentável de recursos hídricos e o desenvolvimento de estratégias para enfrentar a estiagem foram tema de debate no Painel RBS Notícias. O encontro ocorreu nesta terça-feira (3), na Fenasoja, que ocorre no Parque de Exposições Alfredo Leandro Carlson, em Santa Rosa, na região Noroeste.
O evento contou com a participação de Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS (Fecoagro) e presidente da Coopatrigo; Décio Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do RS (Aprosoja-RS) e vice-presidente da Aprosoja Brasil; Jairton Dezordi, engenheiro agrônomo; e Marcos Caraffa, coordenador da faculdade de agronomia da Setrem, em Três de Maio, e mestre em Engenharia da Produção, Qualidade e Produtividade. O jornalista Elói Zorzetto mediou o debate.
Pires, ressaltou a importância do investimento em irrigação e na descoberta de fontes de água para driblar o cenário de estiagem enfrentado pelos produtores no início do ano. O presidente da Fecoagro afirmou que a região das Missões é um exemplo e que a dificuldade está relacionada à capacidade de reservar recursos hídricos.
— Na região das Missões, se produz a semente de soja da melhor qualidade, porque não está exposta a temperaturas altas de verão. Essa é uma saída. O que segura o aumento da irrigação no RS não é a falta de querer investir do produtor nem a viabilidade econômica, mas a reserva de água — diz.
O engenheiro Dezordi, com 33 anos de agronegócio, defendeu a capacidade de estender a produção sem a necessidade de trazer tecnologia importada ou aumentar a área produtiva.
— O agro tem sabido lidar com os desafios. Temos no RS e no Brasil uma série de fatores favoráveis para desenvolver o agro. Temos umidade o ano todo, extensão de área de forma ilimitada, ocupamos de 6% a 7% da nossa área, temos luz o ano inteiro e temos tecnologia. Para dobrar ou até triplicar a produção, não precisaríamos inventar nova tecnologia nem derrubar uma árvore sequer — garante.
Deixando a umidade no solo
A estiagem dos primeiros meses do ano e a necessidade de uma utilização sustentável dos recursos hídricos também pautou a fala do presidente da Aprosoja-RS e vice-presidente da Aprosoja Brasil.
— O produtor tem feito seu dever de casa, mas há coisas que precisam ser aceleradas. A questão da reservação de água em cursos de água ou em APPs (áreas de preservação permanente) é necessária. Você não pode ficar olhando um curso de água passar e cair no mar, temos que utilizar esse manancial que cruza a nossa terra da melhor maneira possível — disse.
Teixeira apontou também que há maneiras de proteger o solo como meio de combater a estiagem.
— Desde que acompanhamos a soja, há 50 anos, já tivemos umas oito estiagens, mas nunca tão fortes como esta. Temos condições de superar. Temos mix de culturas para proteção de solo, precisamos ver o que temos embaixo do nosso solo para usar, principalmente nesta crise de fertilizantes — afirmou.
No mesmo sentido, o professor Caraffa também lembra do cuidado com o solo:
— Quando eu era menino, falávamos de veranico e seca quando dava 25 dias e o milho começava a virar folha. Hoje ele vira com 10 dias. Não temos reserva de água suficiente dentro do solo. Compactado, o solo não deixa a água ser absorvida antes de evaporar, e a água da capilaridade não consegue romper essa camada compactada e não chega à raiz. O déficit acaba ocorrendo em um espaço muito curto de tempo — disse.