Nem só de investimento público para escavar poços e açudes deve ser feita a luta para reduzir o impacto das mudanças no clima na avaliação dos cientistas. Eles defendem, além disso, a adoção de boas práticas por parte dos produtores com o objetivo de melhorar a infiltração da água no solo e reduzir o desperdício de insumos a exemplo do que se faz em regiões de clima seco como o semiárido brasileiro ou Israel.
O semiárido nordestino, apesar da falta de chuvas, produz frutas e hortaliças, com destaque para manga e uva, por exemplo, graças a sistemas de irrigação a partir do Rio São Francisco. Em outra frente, mais de 1 milhão de cisternas ajudam a abastecer pequenas propriedades. Já Israel aposta em tecnologia para reaproveitar água e reduzir desperdício. Há outras soluções que fazem diferença. Mas nem sempre são aplicadas como deveriam.
— Muitos agricultores estão eliminando os terraços (elevações no solo destinadas a reduzir a velocidade de escoamento da água) por acreditar que só o plantio direto seria suficiente para impedir erosão. Acabam tendo as lavouras levadas por enxurradas — nota a professora de Climatologia e Geotecnologias do departamento de Geografia da UFRGS Eliana Lima da Fonseca.
Uma das razões para o desleixo com essa e outras práticas recomendadas pela ciência é a tentativa de aumentar a área de plantio, efeito que acaba sendo contraproducente. Outras formas de amenizar o impacto do clima vêm sendo discutidas por pesquisadores de entidades como a Embrapa.
— A grande lição, que vale para o Nordeste e para o Sul, é aproveitar a água da chuva quando ela está disponível, evitando que ela escoe. Para isso, deve-se usar diferentes práticas para aumentar a infiltração e diminuir a evaporação — diz Diana Signor Deon, presidente do Portfólio Convivência com a Seca no Semiárido, também integrado pelo pesquisador gaúcho Genei Dalmago.
Para Dalmago, o caminho para o Estado garantir boas condições de abastecimento e plantio em um futuro de clima cada vez mais rigoroso não é único:
— A grande inovação é combinar diferentes técnicas já disponíveis hoje, como cultivar a lavoura durante todo o ano, usar terraços, integrar lavoura pecuária e floresta, entre uma série de outras medidas.
Veja algumas dessas técnicas no quadro abaixo: