Júlio Barcellos, professor titular e coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas em Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Em 26 de dezembro de 2014, neste espaço, escrevi sobre as razões da falta de carne bovina na época e ainda referia, que em ZH de 19 de outubro de 1964 já trazia em sua notícia de capa "Carne só volta aos açougues em 1965". Hoje, ocorre algo similar — o preço da carne bovina subiu 30% em menos de um mês. O homem, há séculos, tem um vínculo ancestral e antropológico com o consumo de carne vermelha e mantém o hábito milenar de comer a carne de gado na forma mais natural — o churrasco "correndo sangue".
Mesmo sofrendo pressões de várias organizações e "palpiteiros" sobre os eventuais problemas causados pela carne vermelha relacionados com a saúde, com seus métodos de criação de bois, continuam os prazeres de consumir um bom churrasco. Por meio de diversos programas de TV, criou-se uma onda gourmet na preparação da carne de gado e isso produziu um outro conceito, expandindo-se pelo mundo. Todos querem aprender a preparar a carne.
No final dos anos 1970, o brasileiro consumia 13 quilos per capita ano e hoje quase 40 quilos. É como se cada brasileiro consumisse um bife de 100 gramas todos os dias do ano. O argentino, o uruguaio e nós gaúchos, consumimos mais do que isso. Assim, quando esse fenômeno mundial e, em particular, na China, com milhões de pessoas querendo o "seu bife", o efeito explica o título deste texto.
[...] na conjuntura atual, a velha lei da oferta e da procura, desequilibrou-se: muita gente querendo carne; o varejo indo aos frigoríficos e estes dizendo àquele homem lá no fundão da "grota", nós lhe pagamos mais pelo seu gado.
Produzir a carne, criando gado, é um processo de pelo menos mil dias, desde a fecundação de uma vaca até o seu produto chegar ao prato. É bom lembrar que o frango precisa de 60 dias e o suíno menos de 250. Por trás de tudo isso, existe um ser humano que, de sol a sol, a céu aberto, sob os riscos da natureza, subordinado às normas do Estado, às preferências de cada churrasqueiro, usando tecnologias e tudo que existe a sua disposição, para no final de três anos perguntar ao frigorífico, quanto estão pagando pelo meu boi?
Pois é, na conjuntura atual, a velha lei da oferta e da procura, desequilibrou-se: muita gente querendo carne; o varejo indo aos frigoríficos e estes dizendo àquele homem lá no fundão da "grota", nós lhe pagamos mais pelo seu gado. Portanto, a carne está mais cara, porque falta boi, porque há alguns anos lá no fundão, alguém foi injustamente acusado de poluir o ambiente, do aquecimento global, de maltratar os animais e pior, perdendo dinheiro, aqui sim uma verdade. Por fim, vale lembrar que esta conjuntura sirva de exemplo para olharmos para o todo — do churrasco na brasa ao ser humano lá na ponta que sempre entrega uma carne de qualidade e de valor.
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