Um mês antes do início da Copa do Mundo de futebol na Rússia, uma disputa com importância semelhante para os criadores de cavalos crioulos consagrará seus campeões neste domingo (20), no parque Assis Brasil, em Esteio. A Exposição da Federação Internacional de Criadores de Cavalos Crioulos (ExpoFICCC), com entrada franca, reúne os melhores ginetes e animais na mais importante competição internacional da raça – que movimentou R$ 131,82 milhões no Brasil em 2017.
– Os craques estão todos aqui, disputando a copa que os levará ao topo internacional – destaca Eduardo Suñe, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), organizadora da edição deste ano.
Com as modalidades iniciadas na última quarta-feira (16), a ExpoFICCC traz mais de 300 competidores nas provas seletivas – Freio de Ouro e Morfologia – além de outros 200 conjuntos em três modalidades esportivas.
Entre os ginetes brasileiros, argentinos e uruguaios, alguns chegaram a Esteio ostentando status de estrelas da competição, como o brasileiro Dudu Quadros, o argentino Ramon Eduardo Diaz, ambos campeões em seus países no ano passado, e a experiente Soledad Ferreira, uma das únicas mulheres que se dedica profissionalmente à modalidade no Uruguai.
Dudu Quadros, o craque brasileiro
Na primeira vez em que participou de uma final do Freio de Ouro, no ano passado, Eduardo Weber de Quadros, 30 anos, desbancou concorrentes experientes e subiu no degrau mais alto do pódio. Classificado automaticamente para a ExpoFICCC, o ginete natural de Carazinho tentará repetir o feito montando a égua campeã: Capanegra Quinta Sinfonia, das cabanhas Capanegra, de Dom Pedrito, e Gameleira, de Goiânia (GO).
— Nunca vi um animal assim. Na prova, ela se transforma, se supera, mostra mais do que o habitual — relata o ginete, mais conhecido como Dudu Quadros.
O título mais importante de sua carreira chegou após 15 anos de trabalho dedicados exclusivamente aos cavalos. Proprietário do Centro de Treinamento Mano a Mano há sete anos, ao lado do irmão Caetano Weber de Quadros, Dudu entrou para o mundo dos equinos inspirado no avô Antônio Manoel da Rocha, com quem conviveu até os sete anos. Depois da morte do patriarca, continuou sendo estimulado pelo pai, Paulo Quadros, que viu o filho ser campeão estadual de Laço Guri, aos 13 anos. O reconhecimento seria uma questão de tempo.
— Veio na hora que tinha de vir — diz Dudu, referindo-se ao Freio de Ouro conquistado no ano passado.
Após o título, passou a receber mais animais de alto nível para treinar em seu centro, onde soma hoje 25 cavalos. Competindo na copa do mundo da raça crioula com dois cavalos, Dudu leva para a pista amuletos como uma corrente com o nome do irmão gravado em uma plaqueta e ligas de trabalho vermelhas nas quatro patas do animal.
— A cor é para proteger contra o mau olhado — revela o ginete, que tem como ídolo Lindor Collares, um dos competidores mais premiados da história do Freio de Ouro.
Destreza feminina da craque uruguaia
Em um ambiente dominado por homens, a uruguaia Soledad Ferreira, 46 anos, não chama a atenção apenas por ser mulher – mas pelos resultados em pista. Uma das únicas ginetes profissionais no seu país, Soledad chegou cinco vezes à disputada final do Freio de Ouro, principal competição da raça crioula na América do Sul.
A destreza no lombo de cavalos foi adquirida ainda quando criança, época em que morou na fazenda dos avós. Na vida adulta, mudou-se para Montevidéu para cursar Agronomia.
— Dividia meu tempo entre a faculdade na capital e a montaria no interior. Mas a paixão pelos animais falou mais alto — lembra Soledad, que acabou desistindo do curso faltando poucos exames finais.
Em 2002, a uruguaia criou um centro de treinamento de cavalos em Paysandú (UR), onde passou a dedicar-se integralmente à atividade. No mesmo ano, participou pela primeira vez de uma final do Freio de Ouro, em Esteio, chegando ao 9º lugar.
— Foi uma conquista fantástica. Chegar à final do Freio já é muito difícil, e entre os primeiros, mais ainda – relembra a competidora.
O resultado foi determinante para a ginete seguir firme na atividade, onde não esconde a preferência pelo treinamento para as provas funcionais do Freio de Ouro – como a esbarrada e a mangueira.
— Gosto mesmo da técnica, de acomodar o cavalo — revela Soledad, que treina 23 animais diariamente.
Na ExpoFICCC, a ginete participará das provas de morfologia e de paleteada. O cavalo Coe Corupay, da Cabanha Pingo Viejo, de Artigas (UR), foi o grande campeão da morfologia da exposição de outono deste ano – uma das mais importantes do Uruguai.
— Esse animal é de uma genética reconhecida, filho de campeões morfológicos – conta Soledad.
Coe Corupay, de dois anos e meio, chegou ao RS cinco dias antes do início da competição, que começou na última quarta-feira. Percorreu quase mil quilômetros de Paysandú até Esteio, em dois dias de viagem.
— É um atleta, que precisa de cuidados para que nada altere seu estado emocional e suas características naturais — explica.
Craque argentino é líder na temporada do país
Ramon Eduardo Diaz, 38 anos, chega à final da ExpoFICCC como um dos ginetes de ponta da temporada argentina e com uma égua bicampeã nacional. Em 2017, conquistou os 1º e 2º lugares entre as fêmeas selecionadas à final do Freio de Ouro em classificatórias na Argentina. Neste ano, levou novamente o 1º lugar, além do 4º lugar – garantindo vaga para a segunda decisão seguida da principal competição da raça.
Funcionário da Cabanha La Estrella, de Solari, na província de Corrientes (AR), Diaz começou a montar no começo dos anos 2000. Até então, era o cabanheiro da fazenda, responsável pelo manejo e nutrição de todos os animais da fazenda. Desde então, divide o tempo na propriedade rural entre os cuidados, doma e treinamento dos animais.
— A doma é a base de tudo, é como se fosse a educação de uma criança. Um cavalo bem domado já sai adiantado nas competições — conta o ginete e cabanheiro.
Dias competirá na final da ExpoFICCC com a égua treinada por ele, Chake 4051, campeã das classificatórias argentinas em 2017 e neste ano.
— O animal amadureceu bastante de lá para cá, estou confiante – disse o ginete, que participa de final internacional pela primeira vez.
De fala tímida e comportamento discreto, Diaz compara a relação dos ginetes com os animais à de um casal.
— É como um bom casamento, é preciso ter muita cumplicidade e confiança — resume.
Nos dias das competições, ao longo da semana, o ginete fez questão de acompanhar de perto todo o tratamento dado à égua, da concheira até entrar em pista.
— O segredo é manter a tranquilidade, para o animal sentir isso também — revela.