Mais de 300 pessoas lotaram o Teatro da PUCRS, em Porto Alegre, nesta terça-feira, para participar do Campo em Debate – O Futuro do Agronegócio. Promovido pelo Grupo RBS, com apoio da Syngenta, o evento reuniu especialistas que falaram sobre mudanças do uso da terra, a robótica no campo e os agroquímicos nas lavouras – além de depoimentos de produtores rurais sobre gestão, mão de obra e logística.
Para um público formado por agricultores, profissionais, estudantes e representantes de entidades do setor, foram apresentadas tendências e soluções voltadas ao agronegócio. O debate foi mediado pela colunista de agronegócio Gisele Loeblein
Segundo o analista de geoprocessamento da Embrapa Monitoramento por Satélite, Paulo Roberto Rodrigues Martinho, 66,3% do território nacional é destinado à vegetação protegida e preservada, enquanto 30% é utilizado para lavouras e pastagens. O palestrante mostrou dados nacionais obtidos por meio do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
— Sabemos que CAR foi meio traumático para o agricultor, mas estamos coletando muitas informações que estão valendo a pena — comentou Martinho.
Segundo o professor Rafael Vieira de Sousa, da Universidade de São Paulo (USP), o grande desafio é quebrar a barreira existente entre o produtor e as novas tecnologias de forma a viabilizar um maior aproveitamento das possibilidades que as máquinas oferecem ao campo.
O especialista citou o avanço do uso da internet, do compartilhamento de dados e de sistemas de Big Data, que permitem interface entre todas as informações e atividades das propriedades rurais.
– É possível construir uma nova realidade para o agronegócio, fortalecendo o conceito de fazendas inteligentes – disse Souza.
Gerente de Inovação e Sustentabilidade da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Roberto Santa’Anna falou sobre os desafios que envolvem a criação de novas ferramentas químicas e a integração das tecnologias.
— O Brasil é a Disneylândia das pragas, facilitando a resistência a produtos. É um problema para a agricultura, assim como para os medicamentos — disse Sant’Anna.
Segundo o especialista, existem pelo menos 20 pragas agrícolas que ainda não chegaram ao Brasil. Para desenvolver um novo produto, é preciso, em média, oito anos, incluindo ensaios e testes para provar a eficácia e segurança. Para o registro em órgãos reguladores no Brasil, são necessários mais oito anos.
— Ninguém quer um produto maléfico para saúde humana e ao ambiente, e não é fácil desenvolver novas tecnologias. Leva tempo e muito investimento – destacou Sant'Anna.
Depoimentos de produtores
O produtor e cerealista Caio Nemitz, de Alegrete, na Fronteira Oeste, falou sobre os gargalos para escoar a safra de grãos, transporte e logística:
— Temos de pensar na necessidade que o Rio Grande do Sul tem de levar sua produção de forma mais racional ao porto de Rio Grande — provocou Nemitz, que em 2009 adquiriu uma área com um antigo desvio ferroviário que foi reativado com recursos próprios.
Carlos Eduardo Scheibe, produtor de soja e nozes em Carazinho, no Norte do Estado, falou sobre mão de obra, capacitação e gestão na propriedade:
— Toda semana reúno meus funcionários para planejar as ações e ouvir suas ideias. Ninguém é mais importante do que ninguém, cada um tem que fazer a sua parte. E eles têm a ideia exata disso.
O Campo em Debate marcou o encerramento do projeto especial Campo e Lavoura da Terra à Mesa. Ao longo de 2017, foram cinco cadernos encartados em Zero Hora com abordagens diferenciadas sobre assuntos do meio rural.
Os cadernos especiais trataram dos temas tecnologia, mercado, sustentabilidade, mão de obra e contribuições do setor à sociedade, sempre com uma linguagem leve e interativa. Para cada publicação, foram produzidos conteúdos online e vídeos exclusivos para o gauchazh.com.