A tuberculose é uma doença que afeta mamíferos e aves e constitui um sério problema de saúde tanto humana quanto animal. O agente causador da doença foi descoberto no final século 19 e, desde então, o quadro da tuberculose humana e bovina tem-se agravado, particularmente nos países subdesenvolvidos.
A susceptibilidade do homem ao Mycobacterium Bovis é uma das principais razões para a importância dessa zoonose de origem bovina. A enfermidade é caracterizada pela formação de lesões do tipo granulomatoso, de aspecto nodular, denominada de “tubérculo”, cujo hospedeiro primário é o bovino. Esta zoonose é uma doença infectocontagiosa de caráter crônico, caracterizada por granulomas específicos, os tubérculos, geralmente detectados pelo sistema de inspeção nos frigoríficos. A tuberculose bovina ocasiona grandes prejuízos à economia.
Com o gado enfermo, torna-se difícil a melhoria no padrão de vida dos animais, principalmente para os pequenos produtores que se ocupam da exploração pecuária. Isso diminui o rendimento de carne e leite dos rebanhos.
Além do impacto econômico que pode gerar, representa também ameaça para a saúde humana, em razão dos hábitos alimentares da população, principalmente a ingestão de leite cru ou não fervido e queijo – além do contágio por inalação ou contato com o animal infectado. Outro risco recai sobre o comércio clandestino de carnes provenientes do abigeato. O consumo de produtos de estabelecimentos com origem duvidosa coloca em risco a saúde da população também para a transmissão da tuberculose.
Desde 2001, o Brasil passou a contar com um programa oficial de controle da tuberculose, o Programa Nacional para o Controle e Erradicação da brucelose e tuberculose (PNCEBT). Estudos realizados em 12 Estados da federação, responsáveis por 70% do rebanho brasileiros, demonstram prevalência variando entre 0,4% a 9%. O Rio Grande do Sul, com mais de 14 milhões de bovinos, apresenta prevalência de foco de tuberculose em 2,5% dos animais. É interessante observar que a região norte do Estado apresenta a maior concentração de focos de tuberculose, muito provavelmente relacionados ao predomínio de propriedades leiteiras e/ou propriedades mistas.
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A febre aftosa e o dilema da vacinação
Lembramos o caso ocorrido em Passo Fundo neste mês. Uma propriedade leiteira do município registrou a detecção de 67 vacas positivas para a tuberculose, sendo que destas, 40 vacas estavam em plena produção de leite. Nestes casos, a legislação exige que os animais sejam sacrificados e as carcaças destinadas para outra utilização exceto a alimentação humana (graxaria). Além de prejuízo em curto prazo para o produtor de aproximadamente R$ 300 mil somente em animais, a propriedade foi interditada para passar por vazio sanitário para eliminação completa do foco, impactando profundamente na renda deste produtor.
Ressaltamos ainda a inexistência de vacina e tratamento para a tuberculose bovina, sendo que prevenir continua sendo o melhor caminho. A estratégia indicada seria, nestes casos, adotar um sistema de vigilância para detecção e saneamento dos focos. Além disso, se faz necessário um esforço cada vez maior, tanto por parte do Estado quanto das agroindústrias e dos médicos veterinários na educação sanitária para que seus produtores passem a testar os animais para tuberculose bovina antes de introduzi-los em seus plantéis.
Deniz Anziliero é coordenador do Curso de Medicina Veterinária do (Imed)
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