A combinação desastrosa de granizo, geada e excesso de chuva no segundo semestre de 2015 atingiu em cheio a safra de uva gaúcha. Com a colheita recém iniciada no Rio Grande do Sul, mesmo sem números oficiais das perdas, estimativas indicam quebra de 30% a 50% da produção. A redução do volume refletirá diretamente nas vinícolas, que terão de buscar alternativas para suprir a diminuição de matéria-prima.
Acostumada a receber 16,5 milhões de quilos de uva em safras normais, a maior parte de viníferas brancas, a Salton está prevendo uma quebra ao redor de 40%.
- Se recebermos 10 milhões de uvas soltaremos foguetes - disse Daniel Salton, presidente da Salton, de Bento Gonçalves.
As variedades que mais sofreram com a instabilidade climática foram cabernet sauvignon e chardonnay. Segundo Salton, as variedades moscatel e merlot tiveram menos perdas. Para manter a produção anual de 13 milhões de litros de garrafas, a empresa irá recorrer a vinícolas parceiras que, mesmo com redução de safra, costumam ter excesso de produção.
- São vinícolas que mantêm um padrão de qualidade semelhante ao nosso, nos vinhos de entrada - disse o executivo, ponderando que os produtos de maior valor agregado inevitavelmente terão suas produções reduzidas neste ano.
A estratégia será usada pela Salton para manter o mesmo volume de vendas de 2015, quando a empresa aumentou em 2% os negócios. O faturamento chegou a R$ 338 milhões.
Estoques redirecionados
Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, a perda estimada dos associados é de 30% a 40%.
- No nosso caso, na região de Garibaldi, o pior foi a geada de setembro. O excesso de chuva ajudou a agravar a situação - lembra Oscar Ló, presidente da cooperativa.
Para atender ao mercado ao longo do ano, com um volume de produção menor, a vinícola irá recorrer aos estoques de vinhos e espumantes. Para o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Denis Debiasi, o mais complicado para as indústrias será abastecer o mercado com sucos de uvas e espumantes ao longo do ano, já que os vinhos costumam ter um estoque maior.
30% a 50% é a redução estimada para a safra de uva no Rio Grande do Sul, segundo a Embrapa Uva e Vinho e a Comissão Interestadual da Uva, respectivamente
Preço maior ao consumidor
Não bastasse a quebra na safra de uva, que aumentou os custos de produção, a vitivinicultura começou o ano com outro revés: alta de impostos. Desde dezembro, a indústria passou a pagar 10% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e, em janeiro, 18% de ICMS. Os aumentos da tributação irão resultar em aumento de preço para o consumidor.
- O setor trabalha com margens extremamente achatadas. Algum reajuste terá, inevitavelmente, de ser repassado ao consumidor - adianta o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá, estimando um aumento de 12% a 20% dos produtos já a partir deste mês.
O dirigente irá a Brasília nesta semana buscar apoio de parlamentares para tentar reverter o quadro. No dia 30 de dezembro, a presidente Dilma Rousseff vetou o projeto de lei que alterava as alíquotas do IPI para o vinho. O projeto de lei vetado baixava o IPI para 6% em 2016 e para 5% em 2017. Antes do aumento, o setor pagava uma taxa fixa por litro. Por exemplo, um produto que custasse R$ 20, pagava R$ 0,73 de imposto. Agora, sobre o mesmo produto, a tributação é de R$ 2.
Quanto ao tributo estadual, a alíquota básica do ICMS passou de 17% para 18% desde o dia 1º de janeiro, incluindo alimentos industrializados.