Influência do El Niño, o excesso de chuva durante a primavera preocupa os produtores de arroz do Rio Grande do Sul, que se adiantam e começam a fazer projeções de uma safra, pelo menos, 10% menor em relação ao inicialmente estimado. A expectativa de redução é atribuída ao grande atraso no plantio.
Até o final da semana passada, o trabalho foi finalizado em apenas 62,1% da área estimada para a cultura nesta safra segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Ano passado, na mesma época, o percentual era de 85,1%. Com isso, a produtividade esperada é de sete toneladas por hectare, ante 7,7 na última colheita. Como a intenção de cultivo também encolheu, a Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz) prevê, por hora, um volume 15% abaixo das 8,6 milhões de toneladas obtidas na safra 2014/2015. Outra fonte de inquietação é a possibilidade de grande número de dias nublados no verão. A baixa luminosidade na fase reprodutiva é mais um fator que pode reduzir a produtividade.
- As lavouras que ainda não foram plantadas já estão com o potencial comprometido. Estamos na grande dependência de um clima extremamente favorável em março e abril, com sol, tempo seco e temperaturas acima de 25°C, o que acontece uma ou duas vezes a cada 10 anos - diz o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles.
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Não bastasse o reflexo na produtividade, o clima hostil também afeta o custo dos agricultores, já majorado neste ano pela alta dos insumos. Entram no cálculo a necessidade de replantio em muitas áreas, maior aplicação de agrotóxicos pelo aparecimento de pragas ser facilitado em razão do excesso de umidade e, em alguns casos, maior uso de aviação agrícola, explica Dornelles.
No Irga, o cenário traçado é similar. Para o agrônomo Tiago Barata, diretor comercial da autarquia, a produtividade de sete toneladas por hectare ainda depende de a safra fluir com normalidade a partir da agora. Outro risco é que a dificuldade para as máquinas entrarem nas áreas faça o Estado não atingir a extensão projetada de 1,08 milhão de hectares cultivados.
Com produção menor e gastos maiores, os agricultores também começam a calcular como fecharão as contas. Mesmo considerado bom em termos históricos, o preço atual da saca, em torno de R$ 40, seria insuficiente para cobrir os custos, avalia a Federarroz. Para a entidade, além da oferta menor, jogam a favor de uma reação das cotações os estoques de passagens (que ficam de um ano para o outro) baixos no Brasil e a demanda aquecida para a exportação. Por outro lado, a recessão pode diminuir o consumo interno.
- Tudo é muito complexo. É cedo para fazer uma projeção de mercado - avalia Barata.
Da área de 740 hectares que costuma destinar ao arroz, o agricultor Luis Ricardo Silveira dos Santos, de Viamão, não conseguiu plantar sequer a metade até agora. Neste período, o normal seria ter 90% da área pronta.
- Plantar fora da época indicada leva a uma queda de produtividade de 10% a 15%. Se faltar luminosidade, mais ainda. Pelo menos, não precisei raplantar nada - afirma Santos, que teme fechar as contas no vermelho.
Como a lavoura de Santos fica em uma área à margem da Lagoa dos Patos, uma porção de até cem hectares, suscetível a cheias, pode até ser deixada para trás. Para voltar a ligar as máquinas, além de parar de chover são necesários de quatro a cinco dias de tempo firme, algo raro na primavera deste ano.
O risco de baixa luminosidade no verão, entretanto, é menor, diz o meteorologista Flavio Varone, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). Embora a expectativa continue de chuva acima da média, o histórico não indica a continuidade de grande número de dias nublados.