Os resultados da produção gaúcha de verão serão históricos, embalados pelo alto rendimento da soja, como mostra reportagem do caderno Campo e Lavoura desta edição de terça-feira. E a grandeza vai além. É que nas estatísticas oficiais não entram os números da chamada safrinha - segundo cultivo feito no mesmo ciclo, normalmente de soja em áreas de milho.
E esse movimento que vem se consolidando nos últimos anos poderá forçar uma mudança no calendário de zoneamento agrícola de risco climático, que determina a janela oficial de plantio, dentro da qual o produtor tem a garantia do seguro rural. Fora desse prazo, os riscos ficam por conta do agricultor.
- Temos de ir construindo as coisas. Vai chegar esse momento, mas ainda não é a hora. Acho que em dois, três anos teremos essa necessidade - diz Claudio de Jesus, presidente da Associação dos Produtores de Milho do Estado (Apromilho), sobre uma possível mudança no zoneamento.
A área com soja safrinha no RS é estimada entre 120 mil e 150 mil hectares, concentrada no Noroeste.
Ainda é um espaço pequeno se comparado aos mais de 5 milhões de hectares da soja de primeiro ciclo. Mas vem ganhando terreno na esperança do produtor de ampliar os rendimentos.
É o caso do agricultor Marcos Fridrich, de Ajuricaba. Ele e a família cultivaram 15 hectares de soja safrinha na expectativa de compensar o resultado no milho, que não foi o esperado.
Para ter esse segundo ciclo, o produtor antecipou o plantio de milho. Semeou a soja no início de janeiro e agora se apronta para a colheita - que deve iniciar entre sábado e domingo ou na próxima semana. Em janeiro e fevereiro, a chuva foi boa. Em março, bem no período de enchimento de grão, o tempo ficou seco, o que deve prejudicar a produtividade.
- A segunda safra pode preencher um vazio entre a safra de milho e a de trigo. Mas não é uma coisa simples. É para agricultor disposto a investir. Porque há maior pressão de pragas, de doenças - alerta Fridrich.
Ele tem razão. O cultivo exige cuidado redobrado. E o avanço do segundo ciclo na mesma estação pressiona a pesquisa por novas cultivares, observa Alencar Rugeri, assistente técnico da Emater.
O rendimento projetado para a safrinha de soja é sempre mais comedido do que o do ciclo tradicional, justamente porque "ainda faltam respostas oficiais para atender a essa demanda".
- Apesar de todo avanço, a cautela é extremamente necessária na safrinha - pondera Rugeri.