Em 7,5 mil hectares, 11 colheitadeiras trabalham quase 12 horas por dia nas seis fazendas em Cruz Alta, Tupanciretã e Boa Vista do Cadeado. Com agricultura de precisão em 40% da área e irrigação em 25%, a Sementes Aurora tem como foco a qualidade, um dos diferenciais da produção gaúcha de soja para atender e ampliar mercados que rompem cada vez mais as fronteiras do Estado.
Com 11 colheitadeiras trabalhando quase 12 horas por dia durante um mês, a Sementes Aurora alcançou neste ano a maior safra de sua história desde 1991, quando entrou no mercado. Na época, a empresa tinha 800 hectares cultivados com soja. Hoje, a área plantada em Cruz Alta, Tupanciretã e Boa Vista do Cadeado é quase 10 vezes maior: 7,5 mil hectares.
- A expansão da soja é notável, não apenas em nossas propriedades, mas em todo o Estado - destaca o engenheiro agrônomo Maurício De Bortoli, 35 anos.
A safra resultará em 300 mil sacas de sementes de soja adaptadas ao solo gaúcho e a outros Estados, como Paraná e Mato Grosso, no embalo do bom momento do grão. Mesmo em um ano de alta pressão de ferrugem asiática (doença causada por fungo que reduz a produtividade da soja) e escassez de luminosidade na fase de desenvolvimento vegetativo, as lavouras alcançaram média superior a 60 sacas por hectare. Na produção de sementes, explica De Bortoli, o foco principal não é o volume, mas a qualidade do grão.
Ele e o irmão Eduardo, 31 anos, também agrônomo, são os responsáveis técnicos das lavouras 100% destinadas a produzir sementes. O cultivo para multiplicação exige cuidados específicos, desde o plantio em talhões por variedades até o sistema de colheita menos danoso.
- A evolução genética nos últimos anos aumentou o potencial produtivo dos cultivos que, com tecnologia compatível, são capazes de alcançar resultados elevadíssimos - destaca De Bortoli.
Com agricultura de precisão em 40% da área cultivada, a Sementes Aurora tem 25% das lavouras irrigadas com pivôs centrais - aproveitados também para o plantio da safrinha de soja em cima da resteva de milho.
- Investimos muito pensando no retorno - completa De Bortoli.
O manejo adequado, com rotação de culturas, é uma das práticas recomendadas para conservação do solo, explica o agrônomo Alencar Rugeri, assistente técnico estadual da Emater:
- A tecnologia avança, mas não transforma a produção por si só. Os cuidados com a estrutura do solo e outros detalhes técnicos sempre serão necessários.
Ganhos pré-colheita
O bom desempenho da safra de soja começa muito antes do plantio. Para alcançar alta produtividade, agricultores movimentam indústrias e serviços ao investirem em insumos e fertilizantes, fazendo a economia girar.
- É impossível alcançar resultados expressivos na produção primária sem o envolvimento da indústria e dos serviços - observa Antônio da Luz, economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Depois da colheita, os reflexos de uma supersafra de soja como a atual _ quase 15 milhões de toneladas _ ficam ainda mais evidentes, impactando diretamente as exportações e no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.
- O complexo econômico em torno da agricultura é muito grande, e isso torna o agronegócio competitivo - enfatiza Luz.
Mas quando essa competividade passa por infraestrutura fora das propriedades, a realidade é outra. A deficiência logística no escoamento de grãos é evidenciada em números. No Rio Grande do Sul, segundo estatísticas da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, 88% da safra é transportada por rodovias, 9% em ferrovias e 3% por hidrovias.
Nos Estados Unidos, só 25% da safra é escoada por estradas. O restante vai por meio de ferrovias (40%) e hidrovias 35%). O resultado é que, enquanto no Brasil o transporte representa 8% dos custos da produção da soja, nos Estados Unidos não chega a 3%.
- A situação piora à medida que se aumenta a produção de grãos no país, e a logística não acompanha - completa Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura.