Proprietária de uma das maiores áreas plantadas com soja no Rio Grande do Sul, cerca de 10 mil hectares, a família Acatrolli precisa do milho para aumentar a produtividade da oleaginosa no recomendado sistema de rotação de culturas. Não fosse por isso, já teria abandonado o grão nas propriedades de Palmeira das Missões, Dois Irmãos das Missões e Coronel Bicaco. Em apenas quatro anos, reduziu o cultivo do milho quase pela metade: de 3,5 mil hectares para 2 mil hectares.
- O risco é muito alto, perdemos 15% da safra com geada e chuva de granizo no plantio e 25% com estiagem na fase de polinização em dezembro - diz André Acatrolli, 30 anos.
Engenheiro agrônomo, André administra as propriedades ao lado do pai, Valdir Acatrolli, e do tio Valdecir Acatrolli. Desestimulados com os resultados das lavouras, 100% em áreas de sequeiro, pretendem abandonar a cultura na próxima safra. O desânimo se dá também pelo custo maior da lavoura de milho.
- Não vale a pena. Enquanto uma saca de semente de 20 quilos custa próximo de R$ 400, recebemos R$ 24 pela saca de 60 quilos do grão - compara Valdecir.
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Enquanto um hectare de soja requer R$ 1 mil em insumos, a lavoura de milho demanda R$ 1,6 mil por hectare - diferença de 60%. A rentabilidade maior da soja, diante do custo menor de produção e do preço da commodity, fez com que quase 700 mil hectares de milho fossem ocupados pela oleaginosa no Rio Grande do Sul nas últimas duas décadas (veja os números ao lado).
Duas semanas sem chuva comprometem o resultado
A maior fragilidade do milho em relação ao clima se deve ao curto período de polinização - fase de 15 dias em que a planta precisa de água. Para as lavouras semeadas em setembro, por exemplo, o período mais crítico para chuva ocorre em dezembro - época em que as altas temperaturas são comuns no Rio Grande do Sul.
- Se não chover em uma ou duas semanas específicas, pode haver perda total das lavouras de milho - explica Claudio de Jesus, presidente da Associação dos Produtores de Milho do Estado (Apromilho-RS).
Neste ciclo, a família Acatrolli espera colher 260 mil sacas de milho, com produtividade média de 150 sacas por hectare - abaixo do esperado em razão da escassez de chuva em dezembro. Toda a produção, que será colhida até a metade de março, tem como destino a exportação, que garante R$ 28 pela saca, incluindo o frete até Rio Grande. Agora, na área de 1 mil hectares onde o milho já foi colhido, entrará a safrinha de soja.
Preço ainda estável, mas pode subir
Com a redução de 5% da área de milho no país na safra 2013/2014, a expectativa é de que os preços se mantenham estáveis. A estimativa de menor área também nos Estados Unidos, em favor da soja, pode ser benéfica aos produtores brasileiros, com elevação de preços, conforme o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado.
- Se realmente ocorrer, há espaço para alta no mercado internacional.
Atualmente, a saca de 60 quilos do grão está cotada no Rio Grande do Sul em torno de R$ 24.
Em vídeo: veja o que fazem os produtores que estão obtendo alta produtividade