Só há um ponto que une agricultores e indústria de panificação quando o assunto é o trigo gaúcho. Ambos entendem que a produção nacional do cereal carece de uma política pública. Fora isso, as visões sobre o atual momento e a lentidão da comercialização da safra recorde produzida no Estado são bastante distintas.
Preocupada com o baixo percentual de vendas - pouco mais de 20% do colhido - e com a proximidade de vencimento das primeiras parcelas dos financiamentos de custeio, a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) reforçou solicitações anteriores e encaminhou nesta quinta-feira documento aos governos federal e estadual.
Estão na lista: pedido para o governo não autorizar nova isenção da Tarifa Externa Comum, para liberar, de forma excepcional, o transporte de trigo gaúcho por navios de bandeira internacional rumo ao norte e nordeste do país, para adquirir 400 mil toneladas para estoques reguladores e ainda prorrogar o prazo de pagamento das parcelas de custeio. Outra proposta, a ampliação da vigência do ICMS reduzido nas vendas interestaduais, já teria sido atendida. Segundo o secretário da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, o benefício foi estendido por tempo indeterminado ainda no final do ano passado.
- Os preços do trigo baixaram no mercado interno, mas o do pão, não. Tem uma conta que não está fechando - completa Tarcísio Minetto, superintendente da Fecoagro, sobre o quadro atual.
É também com matemática que o presidente do Sindipan, Arildo Bennech Oliveira, rebate:
- Para nós, quanto mais trigo nacional, melhor. Mas estão esquecendo que o Brasil não é autossuficiente na produção. Precisamos trazer de fora entre 6 milhões e 7 milhões de toneladas.
Para produzir o cacetinho, Oliveira afirma que é preciso uma mescla: 70% de trigo importado e 30% do nacional. Uma exigência por qualidade que vem do consumidor, garante.
- Desafio os líderes do setor a entrarem comigo em uma padaria e consumirem um pão feito só com trigo gaúcho - diz Oliveira.