O combate ao abigeato na região de fronteira é centenário. Na imensidão das planícies da região, os Abas Largas, unidade da Brigada Militar (BM) especializada na busca de ladrões de gado, travam um jogo de gato e rato com os bandos.
Armas à mão, o grupo formado pelo sargento Dilson Torales da Cruz e pelos soldados Marcus Gilberto Isnardi Devincenzi e Roberto Moura, instala-se a bordo de uma caminhoneta do 6º Regimento de Polícia Montada, com sede em Bagé. Em mais um capítulo desse enfrentamento, a patrulha rural inicia uma jornada de 10 horas de vigilância em uma área de 7,3 mil quilômetros quadrados onde existem 4 mil quilômetros de estradas. A maior parte desses caminhos fica na fronteira seca entre Brasil e Uruguai, local de grande atuação de abigeatários.
- É impossível estarmos em todos os lugares da fronteira. Mas os ladrões sabem que uma patrulha pode surgir do nada na frente deles - afirma o tenente Eduardo Azambuja Martins, coordenador do policiamento rural.
Antes de a patrulha sair do quartel, Martins reúne-se com os policiais e entrega um envelope pardo, com o carimbo de sigiloso. Ali estão informações coletadas pelo serviço de inteligência da BM sobre a atividade de um bando de ladrões de gado na Estrada da Serrilhada, um caminho de chão batido de 60 quilômetros que liga a periferia de Bagé a um vilarejo na linha divisória entre Brasil e Uruguai. A conversa entre o tenente e a patrulha foi objetiva e reservada. Zero Hora acompanhou a equipe durante 10 horas de trabalho, que começaram no início de uma noite de junho e terminaram no final da madrugada do dia seguinte.
Os policiais seguiram em marcha lenta pela Serrilhada. A luz do giroflex fica desligada e os faróis, baixos. Informações do serviço de inteligência apontam que ladrões de gado tinham voltado a atuar na área. A estratégia usada é cortar o arame da cerca e soltar o gado na estrada, conhecida como corredor. Durante a madrugada, grupos de ladrões a cavalo conduzem a tropa no corredor até um caminhão boiadeiro.
- Estamos há duas semanas no encalço deles. No mês passado, soltaram 12 cabeças de gado na estrada - acrescenta o soldado Isnardi, que dirige a caminhoneta enquanto Torales e Moura varrem o acostamento da estrada com luzes de faroletes.
De repente, um deles localiza um novilho preto solto no corredor. O veículo para, e os policiais examinam a cerca da fazenda. Não encontram o local onde o arame fora rompido.
Suspendem a busca quando surge a luz de um veículo. Os policiais tomam posição para interceptar o automóvel. O carro para e o motorista se identifica. Era um pecuarista. Com a luz do giroflex, a presença da BM é denunciada, e a chance de chegar aos ladrões diminui. Esse jogo de gato e rato entre abigeatários e polícia vem desde dos tempos em que os Abas Largas faziam as patrulhas a cavalo.