A cada três meses, uma conversa se espalha entre os receptadores de gado furtado na Campanha, em especial em Dom Pedrito:
- Tem carne do Pötter.
O nome é uma garantia de produto macio e de alta qualidade.
- Virei grife de abigeatário. Os ladrões estabeleceram uma espécie de rodízio entre pecuaristas da região para furtar gado. Eu perco 20 cabeças por ano, todas de raça - conta Valter José Pötter, 64 anos, da Estância Guatambu.
- Eu e os meus vizinhos contratamos seguranças que ficam rodando de moto nas estradinhas de chão batido da região e informam as autoridades sobre qualquer movimentação suspeita - comenta o pecuarista.
O momento de maior tensão é quando os animais prontos para o abate são separados do resto do rebanho e ficam aguardando o caminhão para serem levados ao frigorífico.
Na tentativa de não chamar atenção dos ladrões, os peões são orientados a fazer a separação do gado gordo de maneira discreta. O procedimento nem sempre dá certo, porque os abigeatários, na sua maioria homens do campo, conhecem as rotinas das estâncias.
Estanislau Mendes Gonçalves, que vive em Vista Alegre, localidade às margens da Estrada da Serrilhada, em Bagé, tem uma pequena propriedade. Nem por isso está livre da ação dos ladrões que furtam gado.
- Tenho aqui, dentro de uma pastinha, 60 ocorrências policiais que registrei nos últimos anos por ter sido vítima de abigeatários - conta.
Ele já perdeu 500 animais, a maioria vacas leiteiras. Em uma das investidas, como sinal de protesto por uma das vacas ser magra, os ladrões cortaram as patas e deixaram o animal agonizando no pasto.
- Fizeram uma malvadeza com o bicho só para debochar de mim - lamenta o produtor.