Junto com o vento frio e as baixas temperaturas dos últimos dias, chegou ao Estado uma ameaça que preocupa os produtores: a previsão de geada negra. Diferente da tradicional geada, esta é mais rara e "congela" a planta de dentro para fora.
O resultado é uma aparência preta, como sugere o nome, e prejuízos econômicos para determinados cultivos. No Paraná, as recordações de uma geada negra registrada em 1975, quando plantações de café foram dizimadas, seguem vivas até hoje, tamanho o seu impacto.
- Ocorre um congelamento da seiva, que extravasa, e do líquido intracelular. Isso causa efeitos para a planta, que fica murcha e escurecida - explica Derli Paulo Bonine, engenheiro agrônomo da Emater especializado em citricultura.
Os citros, aliás, têm grande suscetibilidade ao fenômeno. No ano passado, uma geada negra registrada no mês de junho, quando a colheita ainda estava pela metade, causou grandes perdas, sobretudo no Vale do Caí.
Neste ano, com a colheita adiantada, o impacto tende a ser menor. Mas como há variedades de bergamotas ainda por colher - caso da montenegrina e da murcott -, a previsão de ocorrência preocupa, diz Bonine.
Felizmente, no caso do trigo - principal cultura de inverno no Estado -, a fase de desenvolvimento atual da maior parte das lavouras afasta o risco de prejuízos. Isso ocorre porque nesta etapa as células não armazenam grandes quantidades de água, explica o também engenheiro agrônomo da Emater Luiz Ataídes Jacobsen.
É a conjugação de fatores, como temperaturas muito baixas, perda de radiação da terra para a atmosfera e ventos fortes gerados por ciclone, que têm embasado as projeções de geada negra segundo o meteorologista Glauco Freitas, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) e do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Os locais mais propícios para ocorrência no Estado são a serra do sudeste e o norte. Mas só mesmo o tempo poderá indicar a extensão real dessa previsão.