Um grupo de cientistas uruguaios, em colaboração com o Instituto Pasteur de Montevidéu, anunciou nesta quarta-feira o nascimento de cordeiros geneticamente modificados, os primeiros da América Latina, e que têm como característica principal que são fluorescentes sob luz ultravioleta. "A transgenia nesta espécie não estava disponível na América Latina e este feito posiciona o Uruguai no mais alto nível científico internacional", informaram a Fundação Instituto de Reprodução Animal Uruguai (IRAUy) e o Instituto Pasteur em um comunicado, divulgado depois que o jornal El Observador antecipou a informação na edição desta quarta-feira.
Entre as espécies transgênicas desenvolvidas na região estão uma vaca que produz no leite proteínas de origem humana, na Argentina, e cabras que também produzem proteína que combate a diarreia infantil, no Brasil.
Os nove cordeiros transgênicos uruguaios nasceram em outubro de 2012 no IRAUy, onde se desenvolvem sem problemas e não se distinguem dos outros animais não transgênicos, contou Alejo Menchaca, presidente do instituto. Nos últimos meses foram feitas análises e estudos moleculares e genéticos para confirmar se os cordeiros efetivamente tinham o gene introduzido pelos cientistas nos embriões ovinos. Esse gene é originário de uma água-viva, responsável pela produção de uma proteína verde fluorescente característica da espécie.
- É uma proteína facilmente identificável no indivíduo. É usada há anos como marcador e nós a usamos neste caso para saber facilmente se os animais eram portadores do gene, comprovar o êxito da técnica - explicou Menchaca.
Como resultado, cordeiros comuns a olho nu ficaram com seus tecidos esverdeados quando expostos à luz ultravioleta. O objetivo foi testar uma técnica inovadora de transgenia, que segundo o cientista é mais simples e eficiente que outras tradicionais.
- É uma técnica muito eficiente porque todos os que nasceram são positivos. Já funcionando, pode-se manipular outro gene de maior interesse para produzir uma proteína específica - disse Menchaca.
As pesquisas neste campo apontam para a possibilidade de utilizar o gene responsável pela produção de uma proteína que falta em algumas patologias humanas (por exemplo, a insulina nos diabéticos), incorporá-lo ao genoma do embrião de uma ovelha, que ao nascer produziria esta substância no leite. Isso permitiria isolar esta proteína para elaborar medicamentos de forma mais simples do que na atualidade, explicou o cientista. Os resultados da pesquisa ainda não foram publicados nas revistas especializadas, o que esperam que ocorra este ano.
- A pesquisa não termina até que o resultado seja divulgado, e estamos trabalhando nisso - acrescentou Menchaca.
A equipe de cientistas é formada por profissionais da Fundação IRAUy e da Unidade de Animais Transgênicos e de Experimentação do Instituto Pasteur de Montevidéu, além da colaboração do uruguaio Ignacio Anegón, especialista em transgenia animal radicado na cidade francesa de Nantes.