Segundo maior produtor de grãos do país, o Rio Grande do Sul tem visto a produtividade das lavouras crescer ano após ano. No entanto, o mesmo aproveitamento observado nos meses mais quentes ainda não é alcançado no inverno. Para mudar esse cenário, a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) lançou o programa Duas Safras, que tem como objetivo incentivar e mostrar aos produtores que é possível incrementar receita na mesma terra que até então fica parada entre uma safra e outra, levando emprego e renda ao campo e à cidade.
Enquanto a safra de verão ultrapassa os 8 milhões de hectares, no inverno apenas cerca de 1 milhão são aproveitados. Uma área ociosa nada desprezível, em um estado em que 40% do PIB vem do agronegócio – incluindo indústria, comércio e serviços que abastecem e escoam a produção. Se a capacidade do setor crescer 45% até 2030, vai representar um aumento de 7% no PIB gaúcho. Na mira estão cereais como trigo, aveia, centeio, cevada e triticale.
– Estamos vendo essa possibilidade como algo muito relevante para o produtor, mas também para o estado do Rio Grande do Sul. É para melhorar a nossa economia, gerar empregos e impostos. Um ‘ganha-ganha’ – destaca o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.
De olho no mercado internacional, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, chama atenção para uma série de oportunidades que podem ser atendidas a partir do porto de Rio Grande.
– Ao implementarmos toda esta agricultura, temos grandes possibilidades mercadológicas. Não só de atender a produção de suínos e frangos, como também do mercado internacional com uma crescente na demanda de milho. E esse é o novo cenário mundial, não só de pós-pandemia, mas de oportunidades que virão em decorrência da guerra na Europa – analisa Pereira.
Demanda justifica projeção
Se de um lado há disponibilidade de solo fértil, do outro há necessidade de abastecimento com o que vem do campo. Há uma demanda significativa não atendida de cereais que se adequam a diversas utilizações, como a formulação de rações para aves e suínos – que resultou aos produtores gaúchos um déficit em torno de 4 a 5 milhões de toneladas de milho como matéria-prima. Diante da escassez do produto, que costuma ser o principal ingrediente, as culturas de inverno podem ser excelentes substitutos. Isso sem falar na alimentação humana, que também utiliza muito dessas culturas.
– Temos a possibilidade de utilização desses cereais na exportação, que se apresentou como um grande mercado para o Estado, e na produção de etanol, que o Rio Grande do Sul é totalmente importador de outros estados neste momento, fazendo com que o consumido aqui seja um dos mais caros do país – observa o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli.
Duas Safras
A colheita em grande parte do Estado se encerra até maio e o trabalho de preparação do solo começa apenas em setembro ou outubro. A ideia é otimizar a utilização dessas áreas, fazendo com que sejam capazes de gerar renda para a produção rural e demanda de trabalho na zona urbana. Assim, a cadeia produtiva passa a ter um ciclo ininterrupto.
Como as regiões do Estado apresentam condições distintas, seminários estão sendo realizados para levar apoio técnico e incentivar a adoção de culturas de inverno. Serão 10 encontros, que já passaram por cidades como Santo Ângelo, Porto Alegre e Pelotas com palestras e conversas com produtores.
O programa Duas Safras é uma iniciativa em parceria de Farsul, Senar-RS, Embrapa, Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Fecoagro/RS, Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Federarroz, Associação das Empresas Cerealistas do RS (Acergs), Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS (Sips) e Aprosoja.
Campo em Debate
O tema compõe a série de painéis do Campo em Debate, na Casa RBS, durante a Expointer, em Esteio. No dia 29 de agosto, às 13h30min, o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz; o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Silveira Pereira; o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli; o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski; e o presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, participam do painel “Duas Safras, mais receita para o agro gaúcho”. A apresentação será da jornalista e colunista de Zero Hora, Gisele Loeblein. O evento terá transmissão ao vivo pela GZH.