Não é possível caminhar por uma floresta nessa parte do noroeste dos Estados Unidos, no Estado de Washington, sem se deparar com um fungo, uma erupção do pouco conhecido reino Fungi, do qual depende toda a vida e cuja importância será discutida na COP16 na Colômbia.
Alguns são altos e esguios, com o topo em forma de capacete, outros são grandes flores de dobras semelhantes a cérebros. As dezenas de espécies que pesquisadores e amadores coletaram em uma manhã recente representam apenas uma pequena fração dessas formas de vida que não são nem plantas nem animais.
— Cogumelos não são plantas. Os fungos estão mais intimamente relacionados aos animais do que às plantas — disse Amy Honan, professora de micologia e ecologia de fungos da Universidade de Oregon.
As espécies vegetais produzem seu próprio alimento por meio da fotossíntese, mas as do reino fúngico precisam comer outra coisa.
— Eles cospem diferentes enzimas, de modo que decompõem o alimento fora do corpo e o absorvem como se fosse uma vitamina — explicou Honan.
Discussão na COP
Há uma conscientização crescente sobre a importância dos fungos, cujo papel será discutido na cúpula COP16 da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, que começa nesta segunda-feira na cidade de Cali, no sudoeste da Colômbia.
O jornal The Guardian noticiou na semana passada que uma proposta conjunta do Chile e do Reino Unido poderia fazer com que os fungos fossem reconhecidos como "um reino independente na legislação, nas políticas e nos acordos, com o objetivo de promover sua conservação e adotar medidas concretas para manter seus benefícios para os ecossistemas e as pessoas".
Uma maior proteção seria uma boa notícia, defende o micologista Graham Steinruck, que, junto com Honan, está liderando um estudo sobre a biodiversidade de fungos em um local que estava submerso até a remoção de uma represa há alguns anos.
Como parte do Olympic Peninsula Fungi Festival, ele e Honan levaram os participantes a campo para ensiná-los a encontrar espécies de fungos e registrar o que viram.
— Acho que quanto mais fungos descobrirmos e documentarmos, não apenas nos informaremos sobre nossa biodiversidade, mas também sobre como podemos gerenciar melhor a Terra — disse Steinruck.
Saber mais sobre esses organismos misteriosos também pode beneficiar muitos aspectos da vida humana. Os cogumelos podem nos ajudar.
— Nos curar e até mesmo potencialmente (ajudar) outras coisas como indústrias — disse ele.
O que é essencial
Das pelo menos 2,5 milhões de espécies de fungos que se acredita existirem na Terra, os cientistas descreveram cerca de 150 mil, ou seja, 6%, afirma a professora durante uma viagem de campo perto de Port Angeles, no Estado de Washington.
Em comparação com o que se sabe sobre plantas e animais, isso é praticamente nada.
— Conhecemos 98% dos vertebrados do planeta. Conhecemos cerca de 85% das plantas que existem e cerca de 20% dos invertebrados — lembra.
Essa falta de conhecimento sobre os fungos é preocupante devido ao papel vital - e em grande parte oculto - que eles desempenham. Essas formas de vida evoluíram antes das plantas e criaram as condições para que a vegetação passasse do mar para a terra.
— Os fungos são essenciais para todos os ecossistemas terrestres. Eles conferem todos os tipos de benefícios às plantas, desde tolerância ao sal, tolerância a metais pesados, resistência a doenças — acrescentou Honan.
* AFP