A chuva registrada em Porto Alegre na semana passada estava contaminada por conta da fumaça das queimadas, segundo o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A análise afirma ainda que a situação não deverá causar impactos negativos na qualidade da água captada para tratamento no Guaíba.
Essas conclusões estão em uma nota técnica publicada nesta quinta-feira (19) pelo Núcleo de Estudos em Saneamento Ambiental (Nesa) do IPH (leia aqui).
As amostras foram coletadas nos dias 12 e 13 de setembro, no Campus do Vale, no bairro Agronomia. Foram avaliados os parâmetros pH, turbidez, sólidos totais, dissolvidos e suspensos, cor aparente, metais, coliformes totais e Escherichia coli.
Resultados
Segundo a nota, os valores de pH que medem a acidez da água – variaram entre 6,8 e 7,2, resultado, portanto, próximo à neutralidade (7), algo que já havia sido verificado na análise preliminar divulgada na semana passada.
Na amostra coletada na manhã do dia 12, a turbidez foi de 89,9 NTU (unidade padrão de turbidez). A referência da norma brasileira para aproveitamento de águas de coberturas para fins não potáveis (NBR 15527) é de 5 NTU; ou seja, o resultado foi 18 vezes superior.
O parâmetro cor apresentou resultado de 151 uH (unidade padrão do item); o valor de referência da norma é 15 uH – a amostra foi, portanto, 10 vezes maior. Os dois índices tiveram redução na tarde do mesmo dia: 7,7 NTU e 27,7 uH, respectivamente.
Os valores de sólidos totais e suspensos encontrados na chuva da manhã do dia 12 foram de 184 mg/L e 75 mg/L, respectivamente.
Segundo o IPH, “foram superiores aos esperados em uma água de chuva em períodos de condições climáticas favoráveis e podem indicar a presença de fuligem tanto na atmosfera quanto na água da chuva”.
As análises detectaram coliformes totais nas amostras provenientes da atmosfera e da calha, indicadores de contaminação pela presença de bactérias.
No dia 12, a concentração foi definida como “elevada”, de 24.196 NMP/100 mL. No dia seguinte, o valor foi inferior: 279 NMP/100mL, “indicando redução da presença de bactérias pelo efeito de lavagem”.
Segundo o IPH, provavelmente a presença se deve a materiais depositados por animais nos telhados e calhas. A norma brasileira estabelece como referência a ausência de coliformes totais e E. coli. em 100 mL de água de chuva, ainda que para fins não potáveis.
Conclusões
A nota afirma que, nos dias das coletas, “a qualidade da água da chuva encontrava-se alterada pela contaminação do ar pelas queimadas”.
A situação, porém, não deverá causar impactos negativos no tratamento da água para consumo humano captada no Guaíba, porque o corpo hídrico apresenta “concentrações de poluentes maiores do que os encontrados nestas análises realizadas no IPH”.
O trabalho orienta que a água captada em telhados na Capital nos dias do estudo – 12 e 13 de setembro – não deve ser usada para consumo humano sem tratamento.
Os cientistas também pedem que haja monitoramento da qualidade do ar para verificar o atendimento aos padrões estabelecidos pelas normas brasileiras.