Um buraco de 20 metros de profundidade atravessa o coração de Berlim. Dentro de dois anos, esse espaço dará lugar ao maior reservatório da capital alemã, capaz de armazenar 17 mil metros cúbicos de água.
— Antes, o objetivo era evacuar as águas pluviais para poder caminhar pela cidade sem galochas — brinca Stephan Natz, porta-voz da gestão de águas de Berlim, com a cabeça coberta por um capacete na borda da cratera de concreto.
Mas a metrópole mudou de rumo e agora trabalha para armazenar água da chuva para limitar as inundações e combater a seca. É o conceito da "cidade esponja", teorizado nos 1970.
Nos Estados Unidos, China e Europa, diversos centros urbanos adotaram essa ideia que propõe absorver, coletar, drenar e reutilizar as águas de escoamento.
A mudança climática implica em uma distribuição mais descontínua da chuva, ou seja, que as secas são seguidas por fortes períodos chuvosos, e um aquecimento crescente que aumenta a evaporação, explicou Natz.
O gigante reservatório de água em construção no centro da capital, a menos de dois quilômetros do emblemático Portão de Brandemburgo, é um símbolo da transformação. O reservatório de 40 metros de diâmetro recolherá cerca de 17 mil metros cúbicos de água - cinco vezes a capacidade de uma piscina olímpica -, armazenará e depois enviará a uma estação de tratamento.
Com um sistema de esgoto de 150 anos de antiguidade e um clima mais extremo que no passado, a cidade já não é capaz de gerir com a mesma capacidade as águas residuais e pluviais.
— Quando chove muito, as águas se misturam e desaguam no rio Spree, provocando a morte de peixes e uma contaminação visual — indicou Natz.
Incentivo para novas instalações
Ao mesmo tempo, Berlim, construída sobre antigos pântanos, enfrenta severa falta de água há vários anos. Após cinco anos de seca, os lençóis freáticos não recuperaram seu nível normal, segundo dados do Instituto Leibniz para a Ecologia da Água Doce e a Pesca.
Em Berlim, as pessoas se conscientizaram lentamente sobre o valor da água. É um dos locais mais secos da Alemanha", diz Darla Nickel, diretora da Agência de Gestão de Águas Pluviais da capital alemã, criada para acompanhar a transformação da cidade em esponja.
Agora todo novo projeto imobiliário deve aplicar essa técnica de coleta de águas pluviais. A agência de gerenciamento de águas pluviais apoia mais de 30 projetos relacionados à "cidade esponja".
A prefeitura também incentiva os particulares a instalar coletores de água ou telhados verdes, isentando-os do pagamento de taxas de gerenciamento e tratamento de águas pluviais. Entretanto, as autoridades locais estão cientes de que serão necessárias várias gerações para que Berlim se torne realmente uma "esponja".
— Resta saber se as mudanças climáticas nos darão tempo — disse Natz.