As primeiras horas do verão em Porto Alegre foram de mudança no tempo: pela manhã, céu limpo, sol e calor. À tarde, a nebulosidade tomou conta do céu da Capital, que viu a chuva chegar no início da noite. A estação mais quente do ano começou à 0h27min desta sexta-feira (22) e se estende até 0h06min de 20 de março.
A temperatura máxima na Capital foi 31,8ºC e a mínima, 22,8ºC, segundo dados da estação convencional do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) na atualização das 21h.
A expectativa de meteorologistas é que os três próximos meses sejam de uma estação com calor acima da média no Brasil. O El Niño será um fator a causar mais chuva no período, assim como ocorreu no inverno e na primavera no Estado.
GZH circulou por dois dos principais pontos de lazer e exercícios físicos ao ar livre durante a tarde: Parque da Redenção e o trecho 1 da Orla do Guaíba (próximo à Usina do Gasômetro). Em ambos foi verificado baixo movimento de pessoas. O trânsito nos acessos às duas regiões também estava menos carregados na comparação com outras sextas.
Romano Ferraz da Silva, 31 anos, era um dos que aproveitaram a tarde na Redenção. O morador de Gravataí relatou não ser fã da época mais quente do ano:
— O verão é bom para quando podemos ir para a praia, para uma piscina, e curtir as férias. Mas, para trabalhar, para ter uma rotina normal, é complicado. Eu particularmente não gosto muito do verão. Tenho mais de dificuldade para dormir e fico indisposto por conta do calor.
Sob a sombra das árvores do parque — quando um termômetro de rua marcava 28ºC —, Romano lia a bíblia com a amiga Aline Zanella, 34 anos. A fisioterapeuta também endossou a reclamação do rapaz.
— O problema é o calor extremo. Mas dias agradáveis, com uma temperatura mais amena, é bom para atividades ao ar livre. Eu ainda prefiro o inverno: é melhor para sair, mais agradável; no verão a gente cansa mais — acrescentou a moradora do bairro Santa Cecília.
Próximos aos pedalinhos da Redenção estavam Willian Falenski, 24 anos, e Maria Antônia de Almeida Fernandes, 25, ambos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A dupla apresentou opiniões antagônicas sobre o início da estação.
— No geral, não gosto (do verão). Acho que muitas atividades se tornam desafios: a pessoa passa muito calor e não tem muito para onde escapar — comenta o estudante de Filosofia.
Maria Antônia, porém, afirmou que o “desafio” imposto pelo calor é a melhor parte.
— Eu amo o verão: é a minha sensação favorita e eu sempre gostei. Odeio o frio e espero o ano inteiro para ficar quente. Acho divertido sair na esquina e "morrer de calor" (risos). Também gosto mais das roupas de verão, das atividades que dá para fazer. No inverno, fico hibernando, quase não faço nada — argumenta a estudante de Farmácia.
Na Orla do Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro, Geórgia Schiller Barcelos, 29 anos, disse ter pegado “ranço” do verão por conta da época em que passava calor no deslocamento para a faculdade. Ela, porém, elogiou características dos dias quentes:
— A gente se sente revitalizado por estar na rua, socializamos mais. No inverno, ficamos mais fechados, é mais difícil de acordar — pontua ela, hoje moradora de São Paulo (SP).
Bruno Soares Pires de Oliveira, 30 anos, demonstrou interesse pela primavera e outubro. Do verão, citou que beber cerveja na rua é um atrativo. Disse não ficar indisposto ou cansado no calorão, e sim “motivado”:
— Me sinto forçado a sair da cama: é um lugar insuportável para ficar no verão.
O que esperar do verão
Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo, diz que a chuva deverá ficar acima da média durante o verão em quase todo o RS — a exceção ficará por conta de parte da Serra e do Litoral Norte. Isso ocorrerá em função da instabilidade vinda da Argentina e do Uruguai e da passagem de frentes frias, tendências comuns durante a primavera, que devem permanecer nos próximos meses.
— Isso que vimos nos últimos meses foram extremos de chuva, com acumulados muito acima da média. Por isso, o RS teve esses problemas. Agora, vai ter chuva acima da média, mas é cedo para dizer se serão temporais ou pancadas, o RS é muito volátil em relação a esses sistemas climáticos. Então, é muito cedo para definir — ressalta Borges.
A precipitação ocorrerá também pela influência do El Niño na estação, assim como tem feito desde o inverno: a irregularidade da chuva será o principal fator a afetar o tempo no Estado, afirma Murilo Lopes, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
— Não vai ser um verão extremamente quente porque haverá uma sequência maior de chuva em função do El Niño. Esse fluxo de umidade vai permanecer mais intenso do que o costume. Por isso, com a chuva mais frequente, esses períodos quentes vão ser menores do que tivemos no ano passado, quando vimos períodos intensos de estiagem — diz Lopes.
Um verão mais chuvoso, porém, deverá propiciar dias de abafamento no Estado, segundo o meteorologista da UFSM: — Mesmo com temperaturas não tão extremas, a presença desse ar mais úmido aumenta a sensação de calor, o que vai trazer um desconforto maior.