Um meio para reduzir as extrações da natureza. É dessa forma que Vanusca Dalosto Jahno, professora do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale, resume a importância da reciclagem. Apesar dos apelos relacionados ao tema, somente entre 4% e 6% do lixo gerado no Brasil é reciclado – índice impulsionado principalmente pela falta de conscientização da população, conforme especialistas.
Para contextualizar o problema, a docente analisa que sempre extraímos matéria-prima da natureza para fabricar materiais e que esse é um recurso finito. Assim, o processo gera impactos no clima, na qualidade do solo, no desperdício de água potável e na geração de energia.
O que é jornalismo de soluções, presente nessa reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
— Quando temos uma separação correta dos resíduos, temos lá na outra ponta alguém reciclando, transformando em um novo produto e obtendo renda. É a economia circular e vai auxiliar para que não tenhamos que extrair mais matéria-prima da natureza. Então, o que temos que visar como população é tornar o nosso resíduo matéria-prima, para diminuir o uso de insumo virgem — afirma Vanusca, que também é coordenadora do Programa de Pós-Graduação de Tecnologia de Materiais e Processos Industriais da instituição.
Mas há diferenças regionais entre os padrões de reciclagem, em função sobretudo da logística de transporte, aponta Nelson Fontoura, diretor do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Em alguns locais, por exemplo, fragmentos de plástico ou itens de isopor muito pequenos não podem ser reaproveitados, pois não têm valor agregado.
— A reciclagem é um negócio como qualquer outro, mas o resíduo sólido é uma matéria-prima com valor agregado baixo. O pessoal que trabalha em cooperativas comenta que a renda é muito baixa e isso está associado à qualidade do processo de separação do resíduo em casa — ressalta Fontoura.
O representante da PUCRS acrescenta que, nas cooperativas, tudo que não pode ser reciclado e é considerado rejeito precisa ser levado para o aterro. Assim, em determinados casos, a empresa de triagem precisa pagar um serviço de transporte para que essa transferência seja feita:
— Ao colocar rejeitos no lixo reciclável, além de não gerar renda, você está gerando custo para a cooperativa. Então, tem que ter muito cuidado. Plástico, papel e lata de alumínio devem estar limpos, tudo o mais higienizado possível.
A limpeza das embalagens é um ponto que colabora muito com o trabalho das pessoas na triagem e torna o processo de reciclagem mais barato, destaca Fontoura. Pequenos detalhes, como tirar a tampinha da garrafa pet, também são importantes.
Vanusca concorda que esses cuidados facilitam o processo de separação nas cooperativas e acrescenta que ainda faz com que consigam vender resíduos com melhor qualidade.
— São plásticos diferentes. Então, na central de triagem, terá que ter uma pessoa que tire a tampa. São segundos que a pessoa perde, mas o sistema todo perde eficiência. Se já colocar sem, facilita. É uma questão de educação e respeito com a pessoa que está lá na outra ponta — sugere o diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS.
Situação de Porto Alegre
Segundo o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Paulo Marques, a capital gaúcha fez coleta seletiva de porta em porta há 33 anos. A frequência varia conforme a região: na central, o caminhão passa três vezes por semana, enquanto nas demais, são duas. Os dias também mudam de acordo com a localidade.
Ao colocar rejeitos no lixo reciclável, além de não gerar renda, você está gerando custo para a cooperativa. Então, tem que ter muito cuidado. Plástico, papel e lata de alumínio devem estar limpos, tudo o mais higienizado possível.
NELSON FONTOURA
Diretor do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
— Plástico, vidro, metal, embalagens longa vida, caixas de papelão, latas de alumínio, isopor e borracha são materiais recicláveis. Todos esses resíduos são encaminhados para as 17 unidades de triagem que o DMLU tem convênio. Eles separam e o que for rejeito o DMLU busca novamente para encaminhar para o transbordo e aterro — explica Marques.
Diariamente, o departamento recolhe em torno de 1,3 mil toneladas de resíduo na cidade. Mas, ao chegar no transbordo, se verifica que existe uma média entre 250 e 300 toneladas de lixo seco que poderia ter sido reciclado caso não estivesse misturado ao orgânico.
— Recolhemos uma média de 53 toneladas diárias de lixo reciclável, mas isso representa em torno de 4,5% de todo o resíduo arrecadado na cidade. E, apesar de ser muito pouco, ainda está acima da média nacional — aponta.
O diretor-geral do DMLU enfatiza que a separação correta gera economia para o município na questão do transporte e do destino final dos materiais. Também aumenta a geração de emprego e de renda para as pessoas que vivem da reciclagem nas cooperativas conveniadas do departamento.
Trata-se de uma questão de conscientização, já que, sem a devida separação e descarte, os resíduos acabam parando nos arroios, nos lagos, nas bocas de lobo, nas ruas, destaca Marques:
— Fizemos várias atividades ao longo da Semana do Lixo Zero tentando despertar nas pessoas o entendimento da necessidade de separar os resíduos dentro de casa. Mas não vemos alternativas de se vencer isso sem uma parceria entre o poder público e a comunidade. Nós trabalhamos e investimos, mas sem a parceria da comunidade não tem esse reflexo.
5 Rs da educação ambiental
- Repensar: repense a maneira como você está consumindo e como está descantando o lixo que produz.
- Reduzir: reduza a quantidade de lixo que você produz buscando alternativas aos hábitos que prejudicam o meio ambiente.
- Recusar: recuse itens que terão pouca durabilidade e se tornarão lixo em pouco tempo, como sacos plásticos, canudos, copinhos, embalagens não recicláveis.
- Reutilizar: reutilize objetos para ampliar a vida útil do produto e economizar a extração de matérias-primas virgens.
- Reciclar: com a coleta seletiva, seus resíduos serão transformados em outros produtos, seja de modo artesanal ou industrial.
Fonte: cartilha de orientações para descarte adequado de resíduos da PUCRS.