A semana chuvosa no Rio Grande do Sul tem uma explicação: a onda de calor que atinge boa parte do Brasil, mas especialmente, os Estados do Centro-Oeste e Sudeste do país. A atuação de um bloqueio atmosférico impede a chegada de frentes frias vindas do sul do país e, com isso, a previsão é de calor "muito intenso" ou "extremo".
— A onda de calor é uma área de alta pressão que atua como um bloqueio atmosférico. Inibe a entrada de ar frio e o avanço da frente fria (que tem chuva). Por isso, a chuva fica concentrada no RS — explica a meteorologista da Climatempo, Alana Gabriele Araújo.
Em Cuiabá, por exemplo, a máxima chegou aos 40,3ºC na terça-feira, temperatura que deve se repetir nesta quarta-feira (20). Em outras 10 cidades, especialmente do Tocantins, a máxima deve bater os 39ºC. E é justamente essa "massa" de calor que não permite que as nuvens chuvas que estão sobre o RS avancem para o Norte.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, ainda na segunda-feira, um alerta meteorológico de nível laranja, que indica perigo, para 16 Estados e mais o Distrito Federal. Nesta quarta-feira, o alerta ainda é válido para nove Estados, mas há outros nove avisos amarelos, também por conta do calorão e da baixa umidade do ar. A validade de todos eles segue até sexta-feira (22).
E essa alta pressão que provoca temperatura recorde no Brasil não tem previsão para se dissipar e, assim, melhorar o tempo no RS. Modelos meteorológicos apontam que a onda de calor pode durar até a primeira semana da primavera, ou seja, até pelo menos o início de outubro — o equinócio da próxima estação é neste sábado (23), a partir das 3h50min.
— A partir de sábado, o tempo fica mais estável na região Norte e Noroeste, mas a chuva permanecerá frequente nas demais regiões, com destaque para o Sul e Centro-Sul — destaca Alana.
Mudança climática?
— De fato, não temos como relacionar cada onda de calor e cada evento extremo às mudanças climáticas — afirma a climatologista Karina Bruno Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Mas já sabemos que, de forma sistêmica, os eventos extremos estão cada vez mais intensos e frequentes, sobretudo os eventos extremos de calor.
Para o meteorologista do Inmet Heráclio Alves, a virada do tempo não chega a ser anormal para esta época.
— Estamos no fim do inverno, que é uma estação mais seca, num momento em que as temperaturas começam a subir, e começamos a ter essas massas de ar quente e seco.
Karina lembrou que este ano está sendo especialmente quente. O verão no Hemisfério Norte, que termina esta semana, foi marcado por várias ondas de calor e registros de temperaturas recordes. Desde a Revolução Industrial, a temperatura média da Terra aumentou 1,1ºC por atividades humanas, sobretudo as relacionadas à queima de combustíveis fósseis. E o El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Pacífico, ainda tende a elevar as temperaturas médias no planeta. Seu ápice só será em dezembro.
— Tem tudo para ser o ano mais quente do registro histórico e 2024 deve ser pior — diz Karina.