O processo de formação de um novo ciclone extratropical em alto mar, próximo à costa do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, deve ajudar a intensificar a chuva no território gaúcho entre terça (26) e quarta-feira (27). De acordo com especialistas, a previsão indica expressivos volumes de água para os próximos dias e gera preocupação, principalmente devido ao nível atual dos rios.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta segunda-feira (25), o meteorologista Marcelo Schneider, que é coordenador do 8º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), comentou que algumas áreas seguirão registrando chuva forte ao longo do dia. No entanto, destacou que a instabilidade está se deslocando mais para a metade norte do Estado, atingindo as regiões de Santa Maria, Santiago e Passo Fundo.
— No momento, a área de maior preocupação é na divisa com Santa Catarina, região de Campos de Cima da Serra, perto de Vacaria. Pelo radar, estimamos que tenha queda de granizo naquelas regiões. Então, a metade norte do Estado tem o maior volume de chuva hoje. No restante do Estado, o tempo continua bem nublado, com expectativa de chuva ao longo do dia — explicou.
Conforme a Climatempo, essa chuva é causada por ventos vindos do oceano e instabilidades associadas a uma baixa pressão que ocorre no Paraguai. A previsão também indica acumulados elevados, chuva forte e ventanias moderadas entre a Serra, Litoral Norte e Região Metropolitana.
Na Campanha, Sudoeste e Extremo Sul, a chuva ocorre entre a tarde e a noite, intercalando com momentos de tempo mais seco. Já no Noroeste, haverá pancadas e trovoadas de intensidade moderada a forte.
Metade norte do RS com maior volume de chuva
Na terça-feira (26), haverá a formação de um sistema de baixa pressão, resultando em um ciclone com características extratropicais, ou seja, com ar frio envolvido — por isso, depois de sua atuação, a temperatura cai em todo o RS. A Climatempo ressalta que o fenômeno se forma em alto mar, devido ao aprofundamento da baixa pressão, reforçando ainda mais as nuvens de temporais.
— O sistema de baixa pressão já está provocando chuva. Amanhã, esse sistema começa a se intensificar e, nesse desenvolvimento, acaba gerando bastante chuva e temporais. Começamos a chamá-lo de ciclone na madrugada de quarta-feira, quando está sobre o oceano. Ou seja, a pressão vai baixando sobre o continente, até que, no oceano, se forma um ciclone extratropical — esclarece Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel).
O especialista afirma que não há definição sobre qual será a região mais atingida pela chuva na terça-feira. Contudo, a maioria dos modelos meteorológicos indicam que os maiores volumes serão registrados entre a parte central e a metade norte do RS:
— Vai chover em todo o Estado. Em algumas regiões mais e, em outras, menos. Região Central deve receber tempestades mais fortes, com alto volume de chuva em curto espaço de tempo e queda de granizo. Também haverá bastante descarga elétrica e rajadas de vento mais fortes em Porto Alegre e na Serra.
Segundo o meteorologista Marcelo Schneider, a estimativa é que os volumes de chuva alternem entre 70, 90 e 100 milímetros na maior parte da Faixa Central que pega desde Uruguaiana, até Santa Maria, Porto Alegre e passa pela região de Canguçu. A marca de 100 milímetros representa mais de 67% da média da Capital, de Uruguaiana e de Canguçu para todo o mês de setembro.
Já na região de Bagé, os volumes ficam entre 40 e 60 milímetros, podendo atingir até 44% da média de acumulados para o mês, que é de 136 milímetros.
— Então, a preocupação é grande, não só em função desse volume de chuva previsto, mas por tudo que estamos vendo nas últimas semanas e também nas últimas horas em relação à elevação dos rios. E a explicação é o que ainda está ocorrendo em toda a região central e sul do Brasil, que continuam com muito calor — comenta o especialista do Inmet.
Vento e frio
O processo de formação do ciclone também trará vento acima dos 70 km/h para todo o Rio Grande do Sul, ainda a partir de terça-feira. As rajadas decorrentes do fenômeno costumam atingir mais o litoral gaúcho, aponta Schneider.
Por isso, a temperatura também cai. Na quarta-feira, a máxima prevista para Porto Alegre é de 17°C e, na quinta (28), a mínima deve ser de 9°C. Em cidades da Região Metropolitana e em Bagé, os termômetros podem marcar 6°C.
Contudo, na quarta, apesar do vento intenso na Faixa Leste, a chuva cessa. Durante o dia, a instabilidade passa a atingir somente a divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.