Um estudo realizado pela organização sem fins lucrativos Climate Central revelou, nesta quinta-feira (7), que as temperaturas recorde que afetaram bilhões de pessoas no Hemisfério Norte neste verão se deveram, em grande medida, às mudanças climáticas provocadas pelo homem. A pesquisa considerou o período entre junho e agosto de 2023.
A conclusão foi de que as emissões de gases de efeito estufa liberadas na atmosfera desde o início da era industrial tornaram muito mais prováveis as ondas de calor que castigaram a Ásia, a África, a Europa e a América do Norte.
Cerca da metade da população mundial - mais de 3,8 bilhões de pessoas - foram expostas a 30 dias ou mais de calor extremo agravado pelas mudanças climáticas, enquanto pelo menos 1,5 bilhão de pessoas suportaram estas temperaturas diariamente durante três meses.
— Praticamente ninguém na Terra escapou da influência do aquecimento global nos últimos três meses — afirmou Andrew Pershing, vice-presidente científico da Climate Central.
Os efeitos, segundo Pershing, não ficaram restritos ao Hemisfério Norte:
— Em todos os países que pudemos analisar, inclusive no Hemisfério Sul, onde esta é a época mais fria do ano, vimos temperaturas que seriam difíceis, em alguns casos, quase impossíveis, sem as mudanças climáticas provocadas pelo homem. A contaminação por carbono é, claramente, responsável pelo calor recorde desta temporada — acrescentou.
A análise se baseou em métodos revistos por especialistas para determinar a probabilidade de ocorrência de temperaturas diárias em cada país do mundo com e sem os níveis atuais de contaminação por carbono.
Uma abordagem similar permitiu aos cientistas identificarem a influência climática ou "impressão digital" de fenômenos meteorológicos extremos, entre eles, recentemente, as condições propensas ao fogo que provocaram os incêndios florestais deste ano em Quebec, no Canadá.
A Climate Central desenvolveu um Índice de Mudanças Climáticas (CSI, na sigla em inglês), que varia entre -5 e 5, com níveis positivos indicando temperaturas cada vez mais prováveis em função das mudanças climáticas.
Um CSI de nível 0 significa que as mudanças climáticas não tiveram nenhuma influência detectável, enquanto o nível 3 indica que triplicaram as probabilidades de registrar uma temperatura específica em um momento e local determinados.
Segundo cálculos da equipe, 48% do planeta experimentaram 30 dias entre junho a agosto com nível CSI 3 ou superior, enquanto 1,5 bilhão de pessoas foram submetidas a este calor durante todo o verão.
— Realmente existe esta divisão entre os países, que foram os mais responsáveis pelas mudanças climáticas pela contaminação que está impulsionando o calor que estamos experimentando neste momento — disse Pershing.
Os países menos desenvolvidos ou pequenos Estados insulares estão sofrendo um calor três a quatro vezes mais intensificado pelo clima do que as nações do G20, das maiores economias do mundo.
Enquanto isso, a exposição global atingiu seu ponto máximo em 16 de agosto de 2023, quando 4,2 bilhões de pessoas em todo o mundo experimentaram um calor extremo provocado pelo clima.